Gente,
que coisa! Que trem doido, meu Deus! A gente que nasceu e vive por estas
Alterosas, come o pão de queijo da tradição, bebe o café que acorda defuntos e
pensa que sabe tudo de história. Pensa que as pedras são só pedras, que casas e
edifícios são simples construções. Engano bobo, sô! Há certos prédios, certas
instituições, que não são feitas só de tijolo e argamassa, mas de pura saudade
cívica e de uma tal teimosia em ser brasileiras que chega a comover este meu
coração paulista de viajante.
O tal
do IEMG, o Instituto de Educação de Minas Gerais. A nossa antiga e eterna Escola
Normal Modelo de Belo Horizonte. Um nome comprido, meio solene, que cheira a
cartório e a passado. Mas que passado, meu caro!
Fundado
em 1906, batizado por Seu João Pinheiro e Seu Carvalho Britto com toda a pompa
da época. Já começava com pose, vejam só! E o lema, que coisa séria: “Educar-se
para educar”. Imagino a rigidez, as moças de uniforme azul e branco, só a nata
da elite, todas aprendendo a arte do magistério como se fosse etiqueta social
ou receita de quindim. Era a escola-referência do Estado, um farol de onde
saíam as professoras-mestras para moldar a meninada, garantindo que fossem, no
futuro, verdadeiros cidadãos republicanos. Um tanto exclusivista, é verdade.
Mas o Brasil, meu caro, é cheio dessas contradições. É o avesso e o direito do
mesmo pano.
E o
tempo, ah, o tempo!
O
bonde do progresso faz a curva na Praça Sete, sobe pela Afonso Pena, vira da
Goitacazes e chega à João Pinheiro, quase beijando o Palácio da Liberdade. E o
IEMG no meio dessa ciranda toda, não para. Dali, de dentro do seu casarão,
nascem outras instituições de peso, como a antiga Faculdade de Filosofia, que
hoje é a FAFICH da UFMG, coisa de se tirar o chapéu!
E no
meio de tanta mudança, sem ser ato repentino, o IEMG vira um mamute bondoso da
rede estadual. Não é mais só para a moça de família. Não! Agora, tem criança
que nem sabe amarrar sapato; tem moço barbado voltando pro banco da escola (o
tal do EJA, vejam só!); tem Ensino Médio, tem o velho e bom Magistério. Uma
miríade de almas, um formigueiro de gente miúda e graúda, toda buscando a
luzinha da instrução. A escola agora quer universalizar, essa palavra meio
pedante que no fundo só quer dizer: incluir todo mundo. E nisso, ela acerta em
cheio.
É um
espanto ver como a educação, para eles, é coisa de vida ou morte. Não param no
tempo, esses mineiros. Buscam o diálogo, o aprofundamento, o enfrentamento dos
problemas – que não são poucos, cá pra nós! – e a valorização daquela
iniciativa pedagógica que deu certo. É um potencializar saberes que não tem
fim, uma busca de ser cada vez mais brasileiro e cada vez mais gente.
E não
é só sala de aula, não, que é o que mais me agrada. O IEMG não esqueceu do Espírito!
É lugar de gente criativa, tem a alma da Emília do Sítio do Pica Pau Amarelo.
Quem não se lembra dos belos recitais, em BH e até na antiga capital do Brasil,
dos "Jovens Cantores do IEMG"? Foi, provavelmente, o coro mais
afinado da cidade. E a fanfarra, meu Deus! Moçada animada que bota ordem e
alegria fechando com garbo e elegância os desfiles de Sete de Setembro na
Afonso Pena. Sem contar a Rádio Educare.47, a voz da escola, com quase uma
centena de programas no ar. E a Revista Pedagógica, que durou dez anos! Tudo
isso é a mais pura e verdadeira cultura, sabe? Aquela coisa essencial que faz a
gente respirar fundo e sentir que está vivo. Que coisa bonita!
O
IEMG, no fim das contas, foi e continua a ser Palco. Palco de reforma, de
transformação, de revolução na lida do ensino. O objetivo? Fazer gente.
Indivíduos autônomos, produtivos e, veja bem, responsáveis. Querem que os
alunos sejam sujeitos, donos da sua história, capazes de ir além das visões
tradicionais que a gente ouve no botequim. Querem que valorizem o espaço
comunitário, que a escola seja um centro irradiador de inclusão.
É isso
que é o Brasil, meu amigo: um misto de rigidez antiga e de uma vontade moderna
de abraçar o mundo. O IEMG, com seus cento e tantos anos, é um pedacinho de
Minas, um pedacinho do Brasil, teimando em educar para que se eduque e, acima
de tudo, para que se viva bem.
.jpg)



.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)


.jpg)

.jpg)
.jpg)