A
gente, quando pensa no Instituto de Educação de Minas Gerais (antiga Escola Normal Modelo de Belo Horizonte) e nas jovens estudantes que de lá saíram para alfabetizar e instruir as crianças Minas Gerais na primeira metade do século passado, logo vem à cabeça aquele uniforme clássico: saia
e blusa azul e branco, uma coisa sóbria, mas com seu charme. É uma imagem tão forte que
ficou, grudada na memória da gente como chiclete quando gruda no cabelo. Mas, ah, a vida tem dessas coisas, de
esconder o começo. E se a gente for lá, nos primórdios da história da educação republicana em Minas Gerais, nos primeiros
álbuns de fotografia daquela Escola Modelo, vamos descobrir que o começo foi outro,
bem diferente. Foi um eco manso da belle époque, trazido para as terras
poeirentas da nova Capital.
E
que silhueta era aquela! Um vestido longo, cobrindo o tornozelo com um pudor
elegante, daqueles que não precisam de muito para dizer muito. A cintura, ah, a
cintura era o ponto de honra. Bem marcada, às vezes por um cinto discreto, de
gorgurão que nem se notava, ou pelo próprio corte do tecido, que abraçava o
corpo sem aperto, mas com compostura.
As
saias, essas sim, eram um espetáculo de recato: amplas, como corolas de flor
que se abre devagar, cheias de tecido por baixo, de anáguas que davam volume,
um suave balão a envolver as pernas. E as mangas, compridas, comportadas,
chegando certinhas no punho. E a gola, alta, às vezes com um rendado singelo,
um frufru discreto, como um segredo bem guardado.
Nos
pés, sapatos fechados, quase sempre pretos, de couro lustroso, com um saltinho
modesto, pra dar um ar mais aprumado, sem ousadia. E as meias, escuras,
completando aquela aura de recato, de seriedade. A moldura perfeita para um
retrato antigo, desses que a gente guarda com carinho.
Mas
não se engane. Apesar de toda essa reverência à moda da época, havia ali uma
busca pela simplicidade, pela funcionalidade. Afinal, era uniforme de escola,
para o dia a dia das moças que sonhavam em ensinar as primeiras letras. As
rendas mirabolantes, os bordados suntuosos dos vestidos da alta sociedade
ficavam para as festas, para os bailes iluminados a gás. Ali, no pátio da
Normal, o que importava era a praticidade, a sobriedade que condizia com a
seriedade do aprendizado.
E
que interessante essa história do branco para ocasiões especiais, como o
funeral do Presidente João Pinheiro em 1907. A formalidade na cor da pureza, em
vez do luto preto tradicional. Uma ousadia sutil, talvez? Uma nova mentalidade
que começava a despontar, um respeito silencioso, mas com uma roupagem
diferente.
E
as cores, o branco e o azul marinho, tão clássicos. Mas aí a gente olha outras
fotos, e lá estão elas, as mesmas normalistas, vestidas de branco imaculado.
Por que será? Talvez fosse o calor da nossa Minas, já castigando mesmo naqueles
tempos. Ou quem sabe, uma praticidade maior para lavar e manter impecável
aquela brancura toda, símbolo de dedicação.
Fico
imaginando essas jovens, com seus vestidos longos e seus sonhos de futuro,
circulando por essa Belo Horizonte que ainda cheirava a terra molhada e a obra
inacabada. E o uniforme, mais do que uma vestimenta, era um elo, uma identidade,
um prenúncio do papel importante que essas mulheres teriam na construção da
nossa história. Um branco e azul (ou só branco) que carregava em suas linhas a seriedade
do aprendizado e a esperança de um futuro mais instruído. Coisas de um tempo em
que até o vestir falava, em que a modéstia e a funcionalidade dançavam um tango
lento e elegante.
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