domingo, 12 de outubro de 2025

Professor Albanito Vaz Júnior: o Homem que Fez o Português Virar Valsa

 



Se você encontrar com uma ex-aluna do Instituto de Educação de Minas Gerais – IEMG (que estudou na instituição até o início dos anos 2000). O Instituto, convenhamos, formou uma legião de gente que pensa – pode apostar que, em menos de cinco minutos, o nome dele salta na conversa: Albanito Vaz Júnior. E quando o nome vem à tona, não é para cumprir tabela. É para abrir o álbum de saudades.

Albanito Vaz Júnior é um dos professores mais queridos e lembrados do Instituto de Educação de Minas Gerais (IEMG). As suas aulas e os seus trabalhos são os assuntos principais de qualquer encontro de ex-alunos do Instituto de Educação. Quem pode esquecer dos florilégios meticulosamente pensados e apresentados ao som de valsas no auditório do Instituto? Com o seu jeito único, inspirou centenas de alunas do magistério no Instituto de Educação. Provocou também a curiosidade e o amor pela literatura em meninos e meninas do Colégio Batista Mineiro. 

Albanito, nascido em 1934 e falecido há pouco, em 2018, não era um professor de Português e Literatura. Era um showman da Língua Portuguesa. Um maestro das palavras. Onde mais, se não nas aulas dele, a rigidez da gramática e o voo da literatura se encontravam sob a luz de um palco, com direito a valsa e a florilégios?

Pois é. Os florilégios. Aquelas apresentações meticulosamente ensaiadas no auditório, onde a poesia virava teatro e a plateia, suspensa, esquecia por um instante que estava ali para aprender e não para se emocionar. Ele inspirou centenas de normalistas do IEMG com esse jeito único – um misto de erudito, carrasco (no bom sentido, o que exige) e pândego. No Colégio Batista Mineiro, fez o mesmo, despertando em meninos e meninas o fogo da curiosidade pela literatura.

Formado em Letras Clássicas na UFMG em 1957, Albanito podia ter enveredado pela vida acadêmica sisuda. Mas preferiu a sala de aula, o chão de fábrica do conhecimento. Passou décadas ali, moldando mentes. Aposentou-se compulsoriamente na rede estadual aos setenta anos, mas mandar Albanito para casa era como proibir o sol de nascer: simplesmente não acontecia. Continuou lecionando na rede particular, mantendo a chama acesa.

Ele era o que se pode chamar de um clássico. Extremamente culto, dono de uma oratória que parava o corredor e, pasmem, conservava a disciplina da sala de aula com... bom humor. Sim, o paradoxo mineiro: a cultura da Sorbonne com o acolhimento do abraço. Entrava na luta por uma educação de qualidade, engajado no Sinpro Minas, publicando seus artigos, defendendo um país mais justo e soberano até o último suspiro.

Mas o que fica, o que faz dele uma lenda, é a paixão pelo ato de ensinar, que transcendia a matéria. Ele transmitia conhecimento sem nunca esquecer da formação ético-moral. Era a alegria contagiante em pessoa, sempre de braços abertos – o que é um feito para um "carrasco" da literatura.

O depoimento de Selma Medeiros, aluna dele no Curso Normal entre 1969-1971, é a prova final, a certidão de imortalidade. Aos 65 anos, ela descobre que o professor, aquele que a obrigava a ler, escrever, montar, dirigir, contracenar e iluminar (tudo isso numa aula de Português, veja bem), era mais que um mestre. Era um amor que ela passou a vida inteira sentindo sem se dar conta.

Albanito Vaz Júnior, na verdade, não morreu em 27 de abril de 2018. Ele apenas encerrou a peça. Mas, como diz Selma, enquanto houver alguém por aí que consiga fazer pelo menos um pouco do que ele ensinou, Albanito é, e será, imortal. Ele vive na ponta do lápis, na linha lida e, principalmente, na saudade que faz o auditório do Instituto de Educação ficar, de novo, cheio.

 

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