quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Crônica de um Velho Solar da Educação (Um olhar d’alma sobre o IEMG)

 


Gente, que coisa! Que trem doido, meu Deus! A gente que nasceu e vive por estas Alterosas, come o pão de queijo da tradição, bebe o café que acorda defuntos e pensa que sabe tudo de história. Pensa que as pedras são só pedras, que casas e edifícios são simples construções. Engano bobo, sô! Há certos prédios, certas instituições, que não são feitas só de tijolo e argamassa, mas de pura saudade cívica e de uma tal teimosia em ser brasileiras que chega a comover este meu coração paulista de viajante.

O tal do IEMG, o Instituto de Educação de Minas Gerais. A nossa antiga e eterna Escola Normal Modelo de Belo Horizonte. Um nome comprido, meio solene, que cheira a cartório e a passado. Mas que passado, meu caro!

Fundado em 1906, batizado por Seu João Pinheiro e Seu Carvalho Britto com toda a pompa da época. Já começava com pose, vejam só! E o lema, que coisa séria: “Educar-se para educar”. Imagino a rigidez, as moças de uniforme azul e branco, só a nata da elite, todas aprendendo a arte do magistério como se fosse etiqueta social ou receita de quindim. Era a escola-referência do Estado, um farol de onde saíam as professoras-mestras para moldar a meninada, garantindo que fossem, no futuro, verdadeiros cidadãos republicanos. Um tanto exclusivista, é verdade. Mas o Brasil, meu caro, é cheio dessas contradições. É o avesso e o direito do mesmo pano.

E o tempo, ah, o tempo!

O bonde do progresso faz a curva na Praça Sete, sobe pela Afonso Pena, vira da Goitacazes e chega à João Pinheiro, quase beijando o Palácio da Liberdade. E o IEMG no meio dessa ciranda toda, não para. Dali, de dentro do seu casarão, nascem outras instituições de peso, como a antiga Faculdade de Filosofia, que hoje é a FAFICH da UFMG, coisa de se tirar o chapéu!

E no meio de tanta mudança, sem ser ato repentino, o IEMG vira um mamute bondoso da rede estadual. Não é mais só para a moça de família. Não! Agora, tem criança que nem sabe amarrar sapato; tem moço barbado voltando pro banco da escola (o tal do EJA, vejam só!); tem Ensino Médio, tem o velho e bom Magistério. Uma miríade de almas, um formigueiro de gente miúda e graúda, toda buscando a luzinha da instrução. A escola agora quer universalizar, essa palavra meio pedante que no fundo só quer dizer: incluir todo mundo. E nisso, ela acerta em cheio.

É um espanto ver como a educação, para eles, é coisa de vida ou morte. Não param no tempo, esses mineiros. Buscam o diálogo, o aprofundamento, o enfrentamento dos problemas – que não são poucos, cá pra nós! – e a valorização daquela iniciativa pedagógica que deu certo. É um potencializar saberes que não tem fim, uma busca de ser cada vez mais brasileiro e cada vez mais gente.

E não é só sala de aula, não, que é o que mais me agrada. O IEMG não esqueceu do Espírito! É lugar de gente criativa, tem a alma da Emília do Sítio do Pica Pau Amarelo. Quem não se lembra dos belos recitais, em BH e até na antiga capital do Brasil, dos "Jovens Cantores do IEMG"? Foi, provavelmente, o coro mais afinado da cidade. E a fanfarra, meu Deus! Moçada animada que bota ordem e alegria fechando com garbo e elegância os desfiles de Sete de Setembro na Afonso Pena. Sem contar a Rádio Educare.47, a voz da escola, com quase uma centena de programas no ar. E a Revista Pedagógica, que durou dez anos! Tudo isso é a mais pura e verdadeira cultura, sabe? Aquela coisa essencial que faz a gente respirar fundo e sentir que está vivo. Que coisa bonita!

O IEMG, no fim das contas, foi e continua a ser Palco. Palco de reforma, de transformação, de revolução na lida do ensino. O objetivo? Fazer gente. Indivíduos autônomos, produtivos e, veja bem, responsáveis. Querem que os alunos sejam sujeitos, donos da sua história, capazes de ir além das visões tradicionais que a gente ouve no botequim. Querem que valorizem o espaço comunitário, que a escola seja um centro irradiador de inclusão.

É isso que é o Brasil, meu amigo: um misto de rigidez antiga e de uma vontade moderna de abraçar o mundo. O IEMG, com seus cento e tantos anos, é um pedacinho de Minas, um pedacinho do Brasil, teimando em educar para que se eduque e, acima de tudo, para que se viva bem.

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