domingo, 28 de setembro de 2025

Do Interior de Minas ao Palácio: Os Arquitetos da Educação, da Política e da Revolução


 

O cenário político e educacional de Minas Gerais nas primeiras décadas da República foi moldado por uma trinca de notáveis: Carvalho Britto, o gestor industrial visionário; Antônio Carlos, o articulador aristocrático; e Francisco Campos, o intelectual que virou jurista de regimes. Suas trajetórias nos mostram   como se constrói uma nação.


Manoel Thomaz de Carvalho Britto: O Industrial do Ensino

Nascido em 1872, Carvalho Britto não era apenas mais um político: era um polímata da elite. Formado em Direito em São Paulo (1894), ele transitou por todas as esferas do poder e da economia: advogado, promotor, industrial e, crucialmente, gestor político.

  • A Escola Argentina: O ponto de virada veio com o convite de João Pinheiro para assumir a Secretaria do Interior. Britto não agiu por impulso: viajou à Argentina para estudar a reforma educacional de Sarmiento e, em seguida, examinou as medidas de Caetano de Campos em São Paulo. Essa imersão deu "nova feição ao sistema escolar de Minas".

  • O Protetor da Normal: Na implementação da reforma de João Pinheiro, Britto foi a "peça fundamental" da Escola Normal Modelo de Belo Horizonte. A instituição o via como um grande protetor, apoiando o avanço pedagógico e reforçando a ideologia de uma república livre e laica. Foi a "encarnação d’alma... que veio infundar-nos coragem", segundo a normalista Berenice Martins.

  • Do Congresso ao Exílio: Britto teve uma carreira brilhante como deputado estadual e federal (integrando a influente Comissão de Obras Públicas) e senador. No setor privado, dirigiu a Companhia de Eletricidade e o Banco do Brasil. Sua aliança com Washington Luiz, porém, custou-lhe caro: ao apoiar Júlio Prestes, foi forçado ao exílio pela vitoriosa Aliança Liberal de 1930. Retornou para fundar indústrias e morreu no Rio, em 1952.


Antônio Carlos Ribeiro de Andrade: O Liberal e o Articulador

O nome Antônio Carlos (nascido em 1870) carrega um peso familiar: era sobrinho-neto de José Bonifácio, o Patriarca da Independência. Liberal clássico com postura aristocrática, este barbacenense foi a força motriz por trás da Aliança Liberal que culminaria na Revolução de 1930.

  • Do Operariado à Justiça: Após se formar em Direito em São Paulo e aderir ao Republicanismo, tentou um breve Partido do Operariado em Barbacena. Foi promotor, Juiz Municipal e professor aprovado em concurso na Escola Normal de Juiz de Fora.

  • A Escalada do Poder: Casado com Julieta Guimarães, filha do Barão do Rio Preto, sua ascensão foi meteórica: senador estadual, vereador, deputado federal, Ministro da Fazenda (1917) e, finalmente, Presidente do Estado de Minas Gerais (1926-1930).

  • A Reforma e a Revolução: Em seu governo, ampliou o acesso à educação primária gratuita e implementou a Reforma Francisco Campos, inspirada em modelos educacionais europeus e americanos, mas adaptada à realidade mineira. Sua maior glória, contudo, foi ser um dos chefes da Revolução de 1930. Seguiu como Ministro da Fazenda no Governo Provisório de Vargas e presidiu, com elegância, a Câmara dos Deputados.


Francisco Luís da Silva Campos: O Jurista dos Regimes

Se Antônio Carlos era o articulador, Francisco Campos (nascido em 1891) era o cérebro legal e intelectual. O jovem de Dores do Indaiá foi um estudante brilhante, premiado com o Barão do Rio Branco como melhor aluno da Faculdade de Direito de BH em 1914.

  • A Universidade e a Nova Escola: Deputado estadual e federal pelo PRM, seu momento crucial veio como Secretário do Interior no governo Antônio Carlos. Ali, ele não só articulou a criação da Universidade de Minas Gerais (UMG) como realizou uma reforma da instrução pública pioneira, baseada nos postulados da Escola Nova.

  • O Redator da Nação: Sua influência transcendeu Minas. De 1930 a 1932, foi Ministro da Educação e Saúde de Vargas, organizando os estatutos das universidades. Contudo, seu legado mais controverso reside na Justiça: ele foi o principal responsável pela redação da Constituição de 1937 (a Polaca), que inaugurou o Estado Novo.

  • O Ator da Ditadura: Após o retorno da democracia, manteve-se como professor e consultor jurídico. Mas, em 1964, ele ressurgiu ao lado de Carlos Medeiros Silva para redigir a "legislação revolucionária" que se tornou o Ato Institucional nº 1 (AI-1), o marco inicial do regime militar. Francisco Campos morreu em 1968, um jurista cuja caneta serviu a projetos de estado radicalmente opostos.

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