quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Para pensar: questões de prova

Questão número 1

 
 
São Paulo, São Paulo
 
Premeditando o Breque
 
É sempre lindo andar na cidade de São Paulo
O clima engana a vida é grana em São Paulo
A japonesa loira a nordestina moura de São Paulo
Gatinhas punks um jeito yankee de São Paulo
Na grande cidade me realizar morando num BNH
Na periferia, a fábrica escurece o dia...
Não vá se incomodar com a fauna urbana de São Paulo
Pardais, baratas, ratos da rota de São Paulo
E pra você crianca, muita diversão em São Paulicão
Tomar um banho no Tietê ou ver TV
Na grande cidade me realizar morando num BNH
Na periferia, a fábrica escurece o dia...
 Chora menino, Freguesia do Ó, Carandiru, Mandaquí ali
Vila Sônia, Vila Ema, Vila Alpina, Vila Carrão Morumbi Pari
O total Utinga, Embú e Imirim, Brás Brás Belém
 Bom Retiro Barra Funda, Hermelino Matarazzo
Mooca, Penha, Lapa, Sé,    Jabaquara, Pirituba
 Tucuru. .vi   Tatuapé
Pra quebrar a rotina num fim de semana em São Paulo
 Lavar um carro, comendo um churro é bom pra burro
Um  ponto de partida pra subir na vida em São Paulo
Terraço Itália, Jaraguá ou Viaduto do Chá
Na grande cidade me realizar morando num BNH
Na periferia, a fábrica escurece o dia...

Sampa
 Caetano Veloso
 
Alguma coisa acontece no meu coração que só quando 
cruzo a Ipiranga e a Avenida 
São João
é que quando eu cheguei por aqui eu nada 
entendi da dura poesia concreta de tuas esquinas
da deselegância discreta de tuas meninas
Ainda não havia para mim Rita Lee, 
a tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João
Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
chamei de mau gosto o que vi
de mau gosto, mau gosto
é que Narciso acha feio o que não é espelho
e a mente apavora o que ainda não é mesmo velho
nada do que não
 era antes quando não somos mutantes
E foste um difícil começo
afasto o que não conheço
e 
quem vende outro sonho feliz de cidade

aprende de pressa a chamar-te de realidade
porque és o avesso do avesso do avesso do avesso
Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
da força da grana que ergue e destrói coisas belas
da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços
tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva
Panaméricas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
mais possível novo quilombo de Zumbi
e os novos baianos passeiam na tua garoa
e novos baianos te podem curtir numa boa.
 
 
 

Essa duas músicas apresentam através de imagens vivas e numa linguagem poética, os dilemas e as possibilidades que caracterizam a reflexão antropológica.

Leia as alternativas abaixo e, em seguida, faça o que se pede:

I - O “avesso do avesso” pode ser traduzido como um recurso através do qual o estrangeiro (o outro ou aquele que não faz parte da cultura citada na música) por fim consegue ver alguma beleza em comportamentos que inicialmente o chocaram (chamei de mau gosto o que vi) e contrasta com a visão dos nativos, que simplesmente acham linda caminhar/viver daquela forma.

II - Caetano Veloso não é paulista, mas baiano, ou seja, ele é o “outro” do paulista. È  aquele que veio de longe)interpretar São Paulo através do angulo do estranhamento (“quando eu chegue por aqui eu nada entendi”). Enquanto que o grupo Premeditando o Breque (grupo formado por integrantes de pessoas que nasceram, foram criadas e moram em São Paulo) interpreta a cidade de maneira bem familiar, nada causa espanto o estranhamento.
III – As duas músicas apresentadas representam o único objeto da antropologia,ou seja, a antropologia é o estudo das “sociedades primitivas”(dos povos chamados de “selvagens”). A antropologia não se preocupa com as sociedades industrializadas que sofreram profundas modificações ao longo da história.
IV – Nas duas músicas citadas acima, o que importa ao olhar antropológico não é apenas o reconhecimento e o registro da diversidade cultural, nesse e em outros domínios das práticas culturais, mas também a busca do significado de tais comportamentos que sempre aparecem como diferentes, exóticas, estranhas ou até mesmo perigosas.

As alternativas corretas são:
A) II e III
B) II e IV
C) I e III
D) I, II e III
E) I, II e IV


Questão número 2

“A crítica do etnocentrismo é verdadeira e não é nova. Mas isso não deve levar à ideia de que nós temos de reconstituir a história do ponto de vista dos vencidos. Nós não podemos nos transformar em índios. Uma coisa é fazer o estudo da visão dos índios e outra é reconstituir a história a partir do seu ponto de vista. Há estudos recentes de etnohistória, como o que Padden fez no México e Wachteel no Peru, em que se estuda como os índios perceberam o descobrimento, a conquista e a colonização. São estudos de mentalidades. A história precisa ultrapassar os pontos de vista do vencido e do vencedor e dizer alguma coisa a mais. Como nação, somos herdeiros dos europeus, dos índios e dos negros, mas todos não participam da mesma maneira na nossa formação. Um foi o vencedor e os dois outros foram os vencidos”.(Fernando Novais)

Sobre o etnocentrismo podemos afirmar que:

A)                é exclusivo de épocas determinadas e rompe com a ideia de que um determinado povo é o centro do mundo.
B)                o etnocentrismo não pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença. E no plano afetivo não pode ser entendido como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade.
C)                não pode se expressar como a procura dos mecanismos, das formas, dos caminhos e razoes, pelos quais tantas e tão profundas distorções se perpetuam nas emoções, pensamentos, imagens e representações que fazemos da vida daqueles que são diferentes de nós.
D)          o etnocentrismo rompe com a imposição de uma visão única e possível. Não aceita que haja uma visão considerada melhor, a natural, a superior, a certa.
E)                O etnocentrismo consiste em privilegiar um universo de representações propondo-o como modelo e reduzindo à insignificância os demais universos e culturas “diferentes”. De fato, trata-se de uma violência que, historicamente, não só se concretizou por meio da violência física contida nas diversas formas de colonialismos, mas, sobretudo, disfarçadamente por meio da “violência simbólica”


Questão número 3

Relativizar é uma palavra que, até hoje, muito pouco saiu das fronteiras do conhecimento produzido pela Antropologia. O conceito de ‘relativização’ de acordo com a Antropologia busca:
A) designar a ocorrência de uma imprecisão conceitual na teoria antropológica;
B) descrever a preeminência da relação entre os termos em qualquer análise antropológica;
C) apontar para o risco de suspensão moral das categorias de nossa própria cultura;
D) nomear o processo de construção de conceitos abstratos a partir das representações nativas.
E) expressar o processo de observação dos valores da própria cultura como se fosse outra;


Questão número 5

1)                 “Somos todos juntos uma miscigenação\ E não podemos \ fugir da nossa etnia Índios, \brancos, negros e mestiços \Nada de errado em seus \ princípios O seu e o meu são\ iguais Corre nas veias sem \ parar Costumes, é folclore, é  \ tradição Capoeira que rasga o\ chão Samba que sai da favela \ acabada É hip hop na minha \ embolada É o povo na arte É \ arte no povo E não o povo na \ arte De quem faz arte com o \ povo Maracatu psicodélico \ Capoeira da pesada Berimbau \ elétrico Frevo, samba e cores \ Cores unidas e alegria Nada \ errado em nossa...

A letra da música Etnia, de Chico Sciense e Nação Zumbi, apresenta uma definição do que é e como se formou o povo brasileiro. Essa música nos remete a obra de Darcy Ribeiro intitulada O povo brasileiro, publicada no ano de 1995. Essa obra aborda a formação histórica, étnica e cultural da população brasileira, com impressões baseadas nas experiências de sua vida. Esse estudo foi considerado inovador e ele utilizou o termo “novo povo” para caracterizar a nossa população. Essa definição é assim denominada em virtude do fato de que o

O povo brasileiro segundo Darcy Ribeiro é

A)               O resultado de uma integração totalmente pacífica a partir de um processo descontinuo e não  violento de unificação política que garantiu a formação de identidade étnica homogênea e não discrepante.
B)                O povo brasileiro forma uma unidade étnico-cultural devido ao fato de não existirem grandes diferenças regionais no nosso território.
C)                O povo brasileiro foi originado a partir de um processo de aculturação total de todos os grupos étnicos-culturais que aqui foram introduzidos ao longo da sua história.
D)               O povo brasileiro foi formado a partir de um processo de miscigenação que anulou toda e qualquer diferença regional existente anteriormente.
E)                um processo continuado e violento de unificação política, logrado mediante um esforço deliberado de supressão de toda identidade étnica discrepante e de repressão e opressão de toda tendência virtualmente separatista.



Questão número 6
O antropólogo deve ser aceito para poder interpretar a visão desde dentro do grupo, deve também conseguir um trato normal e quotidiano, algo que muitas vezes só se consegue com muito tempo, confiança e redes sociais de informantes fiáveis. O antropólogo é catalogado geralmente como um estranho ou intruso (i.e. maneiras de vestir diferentes), pelo qual o receio dos locais pode ser grande no início. Outras vezes, devido à nossa juventude podemos experimentar proteccionismo e paternalismo por parte das pessoas que estudamos. Os trabalhos de campo clássicos desenvolvem um tempo de estadia de um ano como mínimo (descrição do ciclo anual ritual, vital, agrícola, urbano, etc.). A investigação prolongada produz dados mais ricos e fiáveis, mas a antropologia aplicada já tem em conta técnicas de “valoração rápida” que incluí menor tempo de estadia no terreno.

Partilhar o dia a dia do observado, os seus trabalhos, as suas conversas, as suas festas, o seu sofrimento, a sua alegría, etc, impõe-se a todo aquele que deseja aprender a sua visão de mundo, captar as motivações dos seus atos e compreender o seu sistema de valores. Essa afirmação se refere a

a) a Cultura enquanto um objeto privilegiado da antropología
b) as relações interdisciplinares da antropología com as outras ciências sociasi
c) as formas de divulgação dos trabalhos da antropologia
d) a produção da escrita etnográfica

e) ao método de estudo da antropología (observação participante)

Diferença entre dedução e indução

Diferença entre dedução e indução


DEDUÇÃO
INDUÇÃO
A dedução consiste em partir de uma verdade já conhecida (seja por intuição, seja por uma demonstração anterior) e que funciona como um princípio geral ao qual se subordinam todos os casos que serão demonstrados a partir dela.
Por isso também se diz que a dedução vai do geral ao particular ou do universal ao individual.
O ponto de partida de uma dedução é ou uma idéia verdadeira ou uma teoria verdadeira
Com a indução, partimos de casos particulares iguais ou semelhantes e procuramos a lei geral, a definição geral ou a teoria geral que explica e subordina todos esses casos particulares.
A definição ou a teoria são obtidas no ponto final do percurso. E a razão também oferece um conjunto de regras precisas para guiar a indução; se tais regras não forem respeitadas, a indução será considerada falsa.
A dedução permitirá que cada caso particular encontrado seja conhecido, demonstrando que a ele se aplicam todas as leis, regras e verdades da teoria.
Por exemplo, estabelecida a verdade da teoria física de Newton, sabemos que: 1) as leis da física são relações dinâmicas de tipo mecânico, isto é, se referem à relações de força (ação e reação) entre corpos dotados de figura, massa e grandeza; 2) os fenômenos físicos ocorrem no espaço e no tempo; 3) conhecidas as leis iniciais de um conjunto ou de um sistema de fenômenos, poderemos prever os atos que ocorrerão nesse conjunto e nesse sistema

Este tipo de raciocínio é o preferido dos
matemáticos.
A dedução é um procedimento pelo qual um fato ou objeto particulares são conhecidos por inclusão numa teoria geral.
Costuma-se representar a dedução pela seguinte fórmula:
Todos os x são y (definição ou teoria geral); A é x (caso particular); Portanto, A é y (dedução).
Exemplos:
1.
Todos os homens (x) são mortais (y); Sócrates (A) é homem (x); Portanto, Sócrates (A) é mortal (y).
2.
Todos os metais (x) são bons condutores de eletricidade (y); O mercúrio (A) é um metal (x); Portanto, o mercúrio (A) é bom condutor de eletricidade (y).

o raciocínio indutivo permite apenas conclusões prováveis a partir de certas afirmações iniciais, chamadas de premissas ou hipóteses.
As conclusões são obtidas, a partir das premissas, usando-se o raciocínio lógico e, uma vez encontradas, as conclusões são incontestáveis.
Para sermos mais precisos, um argumento lógico dedutivo é sempre formado por três partes: as hipóteses (ou premissas), as conclusões (ou a tese) e a inferência (ou seja o processo pelo qual passamos das hipóteses à tese).
Nos argumentos indutivos se todas as premissas forem verdadeiras, a conclusão provavelmente será verdadeira e as conclusões encerram informações que não estavam totalmente contidas nas hipóteses.

Indutivamente só podemos chegar a conclusões prováveis, por isto não podemos saber se um raciocínio indutivo é correto.
Naturalmente isto vai depender das relações entre as conclusões e as hipóteses

Quadro 1: Aula tradicional

Quadro 1: Aula tradicional
Hierarquia e vigilância

PROFESSOR
ALUNO
ESPAÇO
Tem n vezes mais espaço livre que os alunos. O espaço da secretária é n vezes o espaço da carteira do aluno.
Reduzido à carteira e à fila que lhe dá acesso.


MOBILIDADE
Levanta-se e pode movimentar-se entre os alunos.
Está sempre sentado na carteira. Só pode levantar-se com autorização. Não tem mobilidade nem domina o espaço de trabalho.
POSTURA
Senta-se atrás da secretária. Olha de cima do estrado. Escreve no quadro de constas para o aluno.
“Entalado” na carteira. Vê de baixo e olha sempre para a frente.
TEMPO DE PALAVRA
Tem quase a totalidade do uso da palavra. Dirige-se coletivamete  aos alunos, a comunicação faz-se num só   sentido: exposição do saber.
Está reduzido a responder oralmente ou por escrito a perguntas, ou a ler obedecendo a uma ordem.
As interações entre alunos (conversas paralelas) existem mas são proibidas.



A escola tradicional possui uma série de características que evidencia uma posição empirista. Percebemos um forte apelo à assimilação, por  parte do aluno, do conhecimento que lhe é externo e deve ser adquirido por meio de transmissão sem exigência de maiores elaborações pessoais, de forma que a relação professor-aluno é unilateral, o aluno é visto como um recipiente a ser preenchido, relação esta denominada por Paulo Freire (2005) como bancária e opressora.
O modelo Tradicional prevê um ensino dogmático, em que não estabelece distinção entre educação e instrução, por isso defende a “instrução educativa” a partir de conteúdos livrescos e uma metodologia que deve seguir os seguintes passos: em primeiro lugar, temos a preparação: os conteúdos são apresentados aos alunos; em seguida, no segundo momento, tem-se. apresentação: é o momento de esclarecimento do conteúdo; no terceiro momento, ocorre a associação: comparação das novas idéias com as anteriores; o quarto momento desse processo é o da generalização e aplicação: formulação de princípios gerais e fixação das idéias a partir da experimentação de exercícios.
O modelo tradicional de ensino aprendizagem emprega o método expositivo, o uso do livro didático e quadro negro, como outros recursos metodológicos que garantam a atenção e disciplina do aluno.
É o professor que escolhe e apresenta os conteúdos, sem relação com a vida social do educando, de modo que este limita-se a mera transmissão de idéias recheada de valores sociais e culturais do ponto de vista de quem ensina. Quanto o professor faz a sua escolha metodológica não considera os interesses dos seus alunos.

Quadro 2
CARACTERÍSTICAS GERAIS DA ESCOLA TRADICIONAL
Relação aluno/professor
Magistrocêntrica: o professor  é o centro de todo o processo de transmissão do conhecimento. Ele detém o saber e a autoridade. Dirige o processo de aprendizagem e apresenta o modelo a ser seguido. É uma relação vertical.
O aluno é passivo. Em casos extremos, é reduzido a um mero receptor da tradição cultural (por isto, alguns autores chamam esse tipo de educação de “educação bancaria”)
Conteúdo
A escola tradicional visa a aquisição de noções, enfatizando o esforço de assimilação dos conhecimentos. Daí derivam o caráter abstrato do saber, o verbalismo.
Valorização do passado. A escola se distancia da vida, ou seja, o conteúdo aprendido nos bancos escolares não possuem muita relação com a vida cotidiana dos alunos. A escola valoriza o conteúdo livresco.
Metodologia
Aulas expositivas, centradas na figura do profesor.
Exercícios de fixação (leituras repetitivas e cópias).
Alunos
Submetidos a horários, programas e currículos muito rígidos, os alunos são considerados um bloco único e homogêneo, não havendo qualquer preocupação com as diferenças individuais.
Avaliação
Valorização dos aspectos cognitivos.
Supervalorização da memória e da capacidade de reconstituir aquilo que foi apresentado em sala de aula e está nos livros didático.
Instrumento principal de avaliação: provas individuais e sem consulta.
O aluno estuda para ser avaliado. Como o aluno não estuda para aprender, o processo de verificação de aprendizagem se torna artificial. Utiliza-se na avaliação prêmios e castigos, o que gera competição entre os alunos.
Para manter a ordem e disciplina, durante muito tempo, utilizou-se de castigos corporais.



Filosofia e Educação - uma leitura a partir do livro "Filosofia e Educação" de Leandro Konder

Segundo Leandro Konder, no seu livro Filosofia e educação[1], a relação (o diálogo) entre as Filosofia e Educação pode ser assim apresentado:

Filosofia e educação “São duas palavras, dois substantivos. Educação é uma atividade que existe (e sempre existiu) em todas as sociedades. A palavra vem do latim, educere (conduzir, guiar) e educare (dar de comer a). a fusao dos dois verbos latinos deu, em português, educar.
Quando nascemos, somos seres incrivelmente frágeis. Nossa sobrevivência depende da existência de adultos capazes de nos proteger e de nos e ensinar a sobreviver.
Houve um tempo em que o essencial da educação consistia em ensinar as crias (crianças) a caçar, a pescar, a falar, a empunhar machados e lanças, a plantar e colher.
Pouco a pouco, os seres humanos foram aprendendo a se organizar de maneira complexa, hierarquizada: uns mandavam, os outros eram obrigados a obedecer. Os avanços tecnológicos permitiram um aumento considerável na produção do trabalho. A exploração do trabalho escravo passou a ser um bom negócio.
Os habitantes dessas sociedade complexas eram, eles mesmos indivíduos complexos. Suas inquietações se refletiam em suas religiões.
[...]
As pessoas desenvolveram a capacidade de refletir sobre o que viam. Refletir vem do latim, re flecture (debruçar-se outra vez).
Os indivíduos não se contentavam com o que percebiam num primeiro contato com a coisa: esforçavam-se para rever suas idéias tradicionais (as idéias tradicionais da religião)”[2]

Essa relação foi estabelecida desde a antiguidade clássica, os filósofos gregos ao empreender a busca pela arete humana, iniciaram as discussões sobre a filosofia da educação e seu sentido no mundo. Os helenos viam na prática educativa um meio necessário para o alcance de uma cultura ideal e de uma alma purificada, capaz de elevar o homem ao conhecimento inteligível, apostando na busca de um ideal artístico de cultura.
Platão representa a busca pela educação perfeita (ideal) na metáfora da “alegoria da caverna”, no momento em que um dos homens acorrentados no fundo de uma caverna consegue se libertar sucessivamente tanto ignorância (agnosis) presente na escuridão e do indefinido, como do impreciso e pseudo saber da opinião (doxa). Ao se ver livre dessas amarras, ele consegue enxergar a luz da verdadeira realidade. “O caminho da Filosofia, para Platão, era o de conhecer a realidade por conceitos, até perceber que a própria realidade é, ela mesma, o mundo das idéias, dos conceitos puros, ou mais exatamente, das formas puras”[3]
Na visão platônica, a Filosofia deveria transcender a contingência histórica, contribuindo para o processo de esclarecimento do verdadeiro saber, abandonando os conhecimentos falsos e equivocados, a boa educação seria a educação que forma as virtudes, onde o ser humano tornar-se culto e erudito. E, nessa óptica, a prática educativa se tornou um dos mais importantes objetos de análise e reflexão da Filosofia desde a antiguidade clássica. É possível afirmar inclusive que a Filosofia da Educação apareceu da forte relação com a Filosofia e a pedagogia estabelecido no decorrer dos anos, pois o pensamento filosófico sempre se preocupou com as formas do conhecimento perfeito, orientou o homem segundo a razão, inferindo um pensamento pedagógico que busca a perfeição. Assim, percebe-se a disciplina sendo marcada pela história do pensamento filosófico, com fundamentos e objetivos voltados aos entendimentos da tradição.

A disciplina Filosofia da educação, ao longo da sua história, contribuiu para esclarecer uma serie considerável de dúvidas, o que ajudou nas transformações qualitativas na sociedade. Assim é necessário retomar e discutir o sentido do filosofar nos cursos de formação de professores, para que os novos mestres possam atribuir novos significados às práticas docentes. Hoje em dia, não basta simplesmente explicitar o modelo de ensino idealizado ou lógico segundo os cânones filosóficos em voga, mas torna-se premente reconduzir as propostas pedagógicas a partir do reconhecimento intersubjetivo e hermenêutico da ligação entre o saber filosófico e a prática da educação. Sob essa perspectiva,

“os programas de ensino contemplariam não somente a teoria filosófica, mas a sua reflexão com a problemática educacional, possibilitando a comunicação e a articulação dos conhecimentos. Para tanto, o currículo ao contrário de ser um conjunto de conhecimentos a serem ensinados, necessita promover rupturas epistêmicas, desenvolvendo discussões seletivas, no qual um grupo responsavelmente organizado reconhece e aprecia os saberes necessários e significativos.
Entende-se que a validade da Filosofia da Educação depende da maneira como são efetivados os estudos filosóficos. A simples transmissão de pensamentos clássicos ou a discussão superficial de temas desacoplados da prática pedagógica não efetiva a reflexão e compreensão dos aspectos educativos. É necessária uma formação cultural qualitativa de comunicação reflexiva que proporcione o entendimento hermenêutico do papel da filosofia na educação.. Sendo assim, a apropriação de um entendimento crítico, mediado intersubjetivamente, voltada às inovações da filosofia contemporânea, pode proporcionar o desocultar das implicações sistêmicas e racionalistas, operacionalizando novas competências nas dimensões da formação humana, assim como a produção de novas vias de esclarecimento no ato de educar.[4]


[1] KONDER, Leandro. Filosofia e educação: De Sócrates a Habermas. Rio de Janeiro: Forma & Ação, 2006. p, 13-14.
[2] KONDER, op. cit., p. 13-14.
[3]GHIRALDELLI, Paulo. Neopragmatismo, Escola de Frankfurt e Marxismo. Rio de Janeiro: DP&A, 2001, p. 32-33.
[4] VIERO, Catia Piccolo. TREVISAN, Amarildo Luiz. CONTE, Elaine. Filosofia da educação a partir do diálogo contemporâneo entre analíticos e continentais. In: Abstracta 1:1 pp. 92 – 107, 2004.

Observações sobre o trabalho acadêmico e científico


                 Observações sobre o trabalho acadêmico e científico

Texto de Ronaldo Campos


Você já se perguntou qual é a verdadeira importância de uma pesquisa acadêmica-científica? Provavelmente, muitas vezes. Em primeiro lugar. é preciso definir o que é uma pesquisa científica e quais as suas principais possibilidades. 

No nosso mundo globalizado e conectado, cada vez mais as pesquisas científicas possibilitam alargar os nossos horizontes e a nossa forma de ver o mundo, incentivando-nos a ter uma abordagem mais crítica e analítica sobre a realidade social na qual estamos  inseridos e da qual fazemos parte. A ciência é um importante instrumento para construir questionamentos do mundo que nos cerca e do saber que nos é apresentado como verdade. A ciência nos permite compreender que a verdade não é algo dado como absoluto e imutável. A verdade também é uma construção histórica. Não é um dado  dogmático (determinante de certezas) alienado (longe da história) e a–histórico. 

O trabalho científico muitas vezes assume a forma  dissertativa, pois o seu objetivo (em muitas situações) é o de demonstrar, mediante argumentos, uma tese, que é uma solução proposta para um problema, relativo a determinado tema. Mas o conhecimento humano não se restringe apenas ao saber científico. 

Os tipos de conhecimentos são o senso comum, o conhecimento filosófico e o conhecimento científico. Quando falamos em senso comum estamos nos referindo aquele tipo de saber predominantemente utilizado na solução de problemas cotidianos sem a ajuda das construções racionais e metódicas da ciência, sem os instrumentos que a ciência desenvolveu para que se atinja uma melhor compreensão do mundo. É um saber típico de pessoas comuns que os adquirem a partir das suas experiências de vida. É um conhecimento produzido por leigos que buscam dar respostas às questões e necessidades de seu mundo baseados num “conhecimento” cujo conjunto de formulações a ciência denomina “senso comum”.Para a ciência, o senso comum é um “conhecimento vulgar”, de uma “sociologia espontânea”, com a qual é preciso romper para que se torne possível o conhecimento científico, racional e válido.
No nosso dia a dia, lidamos com uma forma de saber que é o resultado das experiências levados a efeito pelo ser humano quando lidou (e ainda lida) com os problemas da nossa existência diária. É um saber essencialmente empírico, construído sem um planejamento rigoroso. É ametódico e bastante assistemático. Certamente é o mais antigo e está presente em praticamente todas as culturas da Terra. Sendo utilizado no cotidiano. Parte sempre de  generalizações muitas vezes apresadas e imprecisas. É um conhecimento subjetivo e preso as aparências. É também fragmentário  em comparação com a ciência, pois não estabelece conexões onde estas poderiam ser verificadas. 
Se o senso comum constrói o seu saber a partir da observação de dados sensíveis apreendidos por uma percepção imediata, pessoal e efêmera do mundo, o fato cientifico é um fato abstrato, isolado do conjunto em que se encontra normalmente inserido e elevado a um grau de generalidade. Sendo, a ciência o resultado da utilização de métodos rigorosos, os quais permitiram a ciência atingir um tipo de conhecimento sistemático, preciso e objetivo segundo o qual são descobertas relações universais e necessárias entre os fenômenos, o que permite prever acontecimentos e também agir sobre a natureza de forma mais segura.

Conhecer para preservar: a educação patrimonial como um instrumento para preservação de bens materiais e imateriais - texto originalmente produzido para a Revista Pedagógica do IEMG

Conhecer para preservar: a educação patrimonial como um instrumento para preservação de bens materiais e imateriais 
(texto originalmente produzido para a Revista Pedagógica do IEMG)
Ronaldo Campos


Imaginar como era a cidade de Belo Horizonte na época da sua fundação é uma tarefa quase impossível para grande parte das pessoas. Isto por que com uma velocidade impressionante, em um curto espaço de tempo, a capital de Minas sofreu profundas e radicais modificações. Pouca coisa restou dos seus primeiros tempos. Os raros vestígios que permaneceram nos permite recriar o passado e ajudam na construção da nossa identidade como grupo. Esses são denominados pelos pesquisadores através da expressão “fontes históricas”.
Os historiadores definem as fontes históricas como tudo aquilo que o ser humano diz ou escreve, tudo aquilo que fabrica ou que carrega em si os traços da sua presença no mundo e que nos proporciona compreender o passado. Esses vestígios englobam os mais variados formatos como a literatura (fontes escritas), as imagens (fontes pictóricas), os depoimentos (fontes orais) e a cultura material (fontes materiais) e permitem estudar o cotidiano, a memória, o imaginário, a alimentação, as tradições, o aprendizado, a cultura, as artes, a arquitetura, a sociedade, etc.
Nos dias atuais, não há uma hierarquização entre as fontes de pesquisa. Todas são fundamentais para os estudos históricos. Para se compreender a história de uma cidade, de um bairro ou de uma escola, por exemplo, as fontes orais são tão importantes quanto as fontes escritas (os documentos oficiais). Muitas informações que não foram registradas em livros ou em outros documentos oficiais podem ser obtidas a partir do testemunho dos indivíduos que viveram e\ou conhecem a história desses lugares. O mesmo pode ser aplicado aos outros tipos de fontes (fontes visuais e materiais)
Não há uma fonte histórica totalmente imparcial ou isenta de qualquer tipo de subjetividade. Todos os vestígios do passado carregam no seu bojo as influências da cultura, da religião, da educação e das experiências vivenciadas por aqueles que os construiram. Pois, o ser humano não vive isolado numa ilha, ele precisa da socialização para ser quem ele de fato é.  Os homens são seres condicionados: tudo aquilo com o qual eles entram em contato torna-se imediatamente uma condição de sua existência. O “mundo no qual transcorre a  vita activa consite em coisas produzidas pelas atividades humanas; mas, constantemente, as coisas que devem sua existência exclusivamente aos homens também condicionam os seus atores humanos.” (ARENDT, 2004, p.17) 
Grande parte dos vestígios do passado formam o patrimônio cultural de um povo (bens culturais) e permitem aos historiadores reconstruir a trajetória daquele grupo e a identidade (individual ou coletiva) nos seus aspectos político, etnico, religioso, etc). “Não há identidade sem memória e, portanto, sem história.” (KOJIO, p. 3231) Sem passado a história não existe. E sem memória não há nem passado nem cultura e civilização. Pois, nos conhecemos e reconhecemos através daquilo que lembramos, dos registros que fazemos de fatos passados, de objetos e coisas que nos são caras, que nos identificam socialmente. Neste sentido, podemos perceber a importância para o nosso grupo social e a nossa identidade cultural da preservarção de bens e patrimônios que nos identifica e dá sentido a nossa história e a nossa cultura.

Definição de Patrimônio Cultural

O termo “patrimônio” é formado por dois vocábulos de origem grega: pater e nomos. O primeiro etimologicamente significa chefe de família e, em um sentido mais amplo, pode ser traduzido como “os nossos antepassados”. Relaciona-se aos bens material ou imaterial legados por um grupo social. O segundo termo, nomos, significa lei, usos e costumes que estão relacionados a história de uma família ou cidade. Em suma, o patrimônio tem uma relação direta e permanente com os elementos originários responsáveis pela fundação da sociedade.
 O patrimônio é parte da nossa cultura e inclui tudo o que herdamos do passado e tudo o que elaboramos no presente. Pode ser material ou imaterial, tomado individualmente ou em conjunto. Possui na sua estrutura elementos de referência à identidade, à ação, à memória dos vários grupos que formam nossa sociedade. De acordo com o decreto lei número 25, datado de 30 de novembro de 1937, o patrimônio cultural pode ser entendido como o conjunto de bens móveis e móveis existentes no país cuja conservação seja interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.
O vocábulo “cultural” é um adjetivo que se refere à cultura. Em seu sentido mais amplo, é empregado para significar a soma total das criações humanas, ou seja, cultura é o resultado organizado da experiência de um grupo social, povo ou etnia: tudo aquilo que o ser humano (homem e mulher) é, faz e pensa. Inclui os modos de ser e de agir, costumes, regras, leis, liguagem, religião, ritos, celebrações, músicas, tradições, danças, vestuário, culinária, ou seja, é a forma através da qual o ser humano age socialmente e interage com o meio (mundo) onde se insere. É um processo em transformação constante, bastante diversificado e muito rico em possibilidades.
O processo cultural gera produtos: os bens culturais. Estes permitem ao ser humano o conhecimento e a consciência de si mesmo, e do ambiente que o cerca. O valor de um bem cultural está no seu poder de estimular a memória das pessoas historicamente vinculadas à comunidade, contribuindo para garantir sua identidade cultural e melhorar sua qualidade de vida. Os bens culturais são bens públicos que fazem parte da formação identitária do nosso povo e que está presente tanto no dia a dia das pessoas comuns como na esfera pública.
O conjunto de bens culturais pode ser dividido tangíveis, intangíveis e naturais. Os primeiros, os bens cultuais tangíveis são aqueles que por terem materialidade podem ser tocados. Por exemplo, os monumentos, o mobiliário, as imagens religiosas, os vestígios arqueológicos, etc. Em seguida, temos os bens intangíveis que possuem uma existência imaterial. Por exemplos: as comemorações cívicas, as teorias cientlificas e filosóficas, os ritos e as musicas, os padrões de comportamento, etc. Por fim, temos os bens naturais. São elementos da natureza que possuem uma representatividade (um significado) importante para a sociedade. Por exemplo, a Serra do Curral é um bem natural para os belorizontinos. Assim, como a Lagoa Rodrigues de Freitas, o Corcovado e a Floresta da Tijuca são bens cultuais naturais para os cariocas.


O que é educação patrimonial?

A cultura e memória de um povo são os principais fatores de sua coesão e identidade. Fundamentais para o senso de cidadania, esses dois fatores são também responsáveis por relacionar as pessoas à noção de pertencimento, compartilhamento e de identidade.
Os bens culturiais são os legados que recebemos do passado, vivemos intensamente no presente e devemos transmitir às futuras gerações. “O patrimônio histórico materializa e torna visível esse sentimento ecoado pela cultura e pela memória. Assim, permite a construção de identidades coletivas, fortalescendo os elos das origens comuns, passo decisivo para a continuação e a sobrevivência de uma comunidade.” (GESTOR, 2002, p.22) Se não houver a preservação dos bens culturuais, nada teremos para transmitir como história, memória e identidade, isto é, a atuação social e educativa no tema da preservação dos bens culturais coletivos é de de suma importância.
Preservar significa  garantir a continuidade física ao patrimônio edificado histórico ou ambiental, das coleções artísticas e dos mobiliários, dos jardins e dos parques históricos, das esculturas, dos arquivos de interesse histórico e dos usos, costumes e manifestações culturais. Há várias formas para garantir a preservação dos bens culturais, entre elas, temos a educação patrimonial.
De acordo com o Guia Básico da Educação Patrimonial (HORTA, 1999), a educação patrimonial é um processo permanente e sistemático de trabalho educacional tendo como centro a ideia de Patrimônio Cultural como fonte primária do enriquecimento individual e coletivo. Deve ser desenvolvida segundo dois parâmetros: a educação para a integração e a preservação do patrimônio cultural. De acordo com Horta (1999), a partir da experiência e do contato direto com as evidências e manifestações da cultura, em todos as suas características, significados e sentidos, o trabalho da Educação Patrimonial busca levar crianças e jovens a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural. O que também irá capacitá-los para um uso mais adequado dos bens culturais da sua sociedade. Propiciando a criação de novos saberes em um processo continuado de criação cultural. Em suma, graças a educação patrimonial é possível preservar e garantir o direito ao acesso à memória individual e coletiva, elemento importante para garantir o pleno exercício da cidadania e para assegurar a conscientização do nosso lugar e do nosso papel no mundo.
A educação patrimonial possibilita descobrir aquilo que queremos construir, preservar e deixar como legado para os nossos descendentes ao identificar e proteger aqueles bens culturais que representam a nossa memória, a nossa história e os nossos valores. Neste sentido, a educação patrimonial tem uma função estruturante no processo de formação do cidadão.
Pode-se entender a educação patrimonial como uma espécie de “alfabetização cultural” que tem o papel de criar as condições para ler (entender) o mundo no qual estamos inseridos. Possibilitando compreender o universo sociocultural e da trajetória tempo\espaço em que está inserido. O que levará por sua vez ao aumento da auto-estima das pessoas e do grupo e à valorização da sua cultura (no nosso caso cultura brasileira) que é vista como múltipla e plural.

 Como e por que perservar o patrimônio cultural da nossa cidade?

A preservação dos nossos bens culturais está diretamente relacionada a manutenção da nossa identidade cultural. O objeto imediato desse processo é a continuidade físca do patrimônio edificado, histórico ou ambiental, das coleções artísticas, dos mobiliários, dos jardins, parques, sítios arqueológicos, dos costumes, hábitos e manifestações culturais, para garantir o sentimento de pertencimento de um grupo a uma comunidade ou lugar, promovendo a melhoria da qualidade de vida das sociedades, através do bem estar material e espiritual que possibilita o exercício da memória e da cidadania. É importante nos sentirmos parte integrante de um grupo ou cultura para valorizar as referências culturais, integrando-se aos processos de preservação dos elementos que formam a memória local percebida no patrimônio cultural.
É dever de todos preservar os bens culturais em sua totalidade, o que exige uma metodologia de intervenção capaz de respeitar os elementos componentes do patrimônio cultural. Mas para que isso ocorra os membros da comunidade devem reconhecer esse bem cultural como parte importante da sua história. É preciso conhecer a história e saber que elas fazem parte do cenário social da sua comunidade.