quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Filosofia e Educação - uma leitura a partir do livro "Filosofia e Educação" de Leandro Konder

Segundo Leandro Konder, no seu livro Filosofia e educação[1], a relação (o diálogo) entre as Filosofia e Educação pode ser assim apresentado:

Filosofia e educação “São duas palavras, dois substantivos. Educação é uma atividade que existe (e sempre existiu) em todas as sociedades. A palavra vem do latim, educere (conduzir, guiar) e educare (dar de comer a). a fusao dos dois verbos latinos deu, em português, educar.
Quando nascemos, somos seres incrivelmente frágeis. Nossa sobrevivência depende da existência de adultos capazes de nos proteger e de nos e ensinar a sobreviver.
Houve um tempo em que o essencial da educação consistia em ensinar as crias (crianças) a caçar, a pescar, a falar, a empunhar machados e lanças, a plantar e colher.
Pouco a pouco, os seres humanos foram aprendendo a se organizar de maneira complexa, hierarquizada: uns mandavam, os outros eram obrigados a obedecer. Os avanços tecnológicos permitiram um aumento considerável na produção do trabalho. A exploração do trabalho escravo passou a ser um bom negócio.
Os habitantes dessas sociedade complexas eram, eles mesmos indivíduos complexos. Suas inquietações se refletiam em suas religiões.
[...]
As pessoas desenvolveram a capacidade de refletir sobre o que viam. Refletir vem do latim, re flecture (debruçar-se outra vez).
Os indivíduos não se contentavam com o que percebiam num primeiro contato com a coisa: esforçavam-se para rever suas idéias tradicionais (as idéias tradicionais da religião)”[2]

Essa relação foi estabelecida desde a antiguidade clássica, os filósofos gregos ao empreender a busca pela arete humana, iniciaram as discussões sobre a filosofia da educação e seu sentido no mundo. Os helenos viam na prática educativa um meio necessário para o alcance de uma cultura ideal e de uma alma purificada, capaz de elevar o homem ao conhecimento inteligível, apostando na busca de um ideal artístico de cultura.
Platão representa a busca pela educação perfeita (ideal) na metáfora da “alegoria da caverna”, no momento em que um dos homens acorrentados no fundo de uma caverna consegue se libertar sucessivamente tanto ignorância (agnosis) presente na escuridão e do indefinido, como do impreciso e pseudo saber da opinião (doxa). Ao se ver livre dessas amarras, ele consegue enxergar a luz da verdadeira realidade. “O caminho da Filosofia, para Platão, era o de conhecer a realidade por conceitos, até perceber que a própria realidade é, ela mesma, o mundo das idéias, dos conceitos puros, ou mais exatamente, das formas puras”[3]
Na visão platônica, a Filosofia deveria transcender a contingência histórica, contribuindo para o processo de esclarecimento do verdadeiro saber, abandonando os conhecimentos falsos e equivocados, a boa educação seria a educação que forma as virtudes, onde o ser humano tornar-se culto e erudito. E, nessa óptica, a prática educativa se tornou um dos mais importantes objetos de análise e reflexão da Filosofia desde a antiguidade clássica. É possível afirmar inclusive que a Filosofia da Educação apareceu da forte relação com a Filosofia e a pedagogia estabelecido no decorrer dos anos, pois o pensamento filosófico sempre se preocupou com as formas do conhecimento perfeito, orientou o homem segundo a razão, inferindo um pensamento pedagógico que busca a perfeição. Assim, percebe-se a disciplina sendo marcada pela história do pensamento filosófico, com fundamentos e objetivos voltados aos entendimentos da tradição.

A disciplina Filosofia da educação, ao longo da sua história, contribuiu para esclarecer uma serie considerável de dúvidas, o que ajudou nas transformações qualitativas na sociedade. Assim é necessário retomar e discutir o sentido do filosofar nos cursos de formação de professores, para que os novos mestres possam atribuir novos significados às práticas docentes. Hoje em dia, não basta simplesmente explicitar o modelo de ensino idealizado ou lógico segundo os cânones filosóficos em voga, mas torna-se premente reconduzir as propostas pedagógicas a partir do reconhecimento intersubjetivo e hermenêutico da ligação entre o saber filosófico e a prática da educação. Sob essa perspectiva,

“os programas de ensino contemplariam não somente a teoria filosófica, mas a sua reflexão com a problemática educacional, possibilitando a comunicação e a articulação dos conhecimentos. Para tanto, o currículo ao contrário de ser um conjunto de conhecimentos a serem ensinados, necessita promover rupturas epistêmicas, desenvolvendo discussões seletivas, no qual um grupo responsavelmente organizado reconhece e aprecia os saberes necessários e significativos.
Entende-se que a validade da Filosofia da Educação depende da maneira como são efetivados os estudos filosóficos. A simples transmissão de pensamentos clássicos ou a discussão superficial de temas desacoplados da prática pedagógica não efetiva a reflexão e compreensão dos aspectos educativos. É necessária uma formação cultural qualitativa de comunicação reflexiva que proporcione o entendimento hermenêutico do papel da filosofia na educação.. Sendo assim, a apropriação de um entendimento crítico, mediado intersubjetivamente, voltada às inovações da filosofia contemporânea, pode proporcionar o desocultar das implicações sistêmicas e racionalistas, operacionalizando novas competências nas dimensões da formação humana, assim como a produção de novas vias de esclarecimento no ato de educar.[4]


[1] KONDER, Leandro. Filosofia e educação: De Sócrates a Habermas. Rio de Janeiro: Forma & Ação, 2006. p, 13-14.
[2] KONDER, op. cit., p. 13-14.
[3]GHIRALDELLI, Paulo. Neopragmatismo, Escola de Frankfurt e Marxismo. Rio de Janeiro: DP&A, 2001, p. 32-33.
[4] VIERO, Catia Piccolo. TREVISAN, Amarildo Luiz. CONTE, Elaine. Filosofia da educação a partir do diálogo contemporâneo entre analíticos e continentais. In: Abstracta 1:1 pp. 92 – 107, 2004.

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