Texto publicado originalmente na Revista Pedagógica do Instituto de Educação de Minas Gerais
Ano 3 \ Número 3\ maio 2015 \ Belo Horizonte – MG
Educação, qual o seu futuro?A antiga Escola Normal Modelo, um marco na História
Elza Moura
Nos tempos de hoje parece que é proibido sonhar,
planejar, recordar sentimentos delicados, pensamentos elevados são considerados
ridículos, só valendo a grosseira, a ausência da ternura, a amizade... O que
está acontecendo com a humanidade em que o ser humano está se desumanizando e
se tornando inferior ao animal selvagem. Por onde anda a sua família? E a
escola? Não mais existem?
Tenho pensado nas habilitações de agora que são
construídas para o povo, cada vez menores e naquelas casas de antigamente,
vastas, acolhedoras, com gesto de lar, contendo jardim, horta e quintal, não
mais existem. Hoje é casa refeitório e dormitório, nem sempre refeitório e
dormitório porque os filhos vivem em clubes ou em casas dos colegas. Lembre-se
de um dos livros de leitura de grupo escolar, e Livro de Elza, em que a
família, à hora da refeição, tinha o pai à cabeceira, falando sobre assuntos da
vida: civismo, estudos, trabalho, responsabilidade. Hoje, esse quadro evocado
deve causar risinho de deboche na mocidade atual. A vida mudou muito, mas os
valores são os mesmos. A questão de espaço é crucial.
O Brasil é vasto, mas o povo vive em reduzidos espaços.
Há pouco, viajando pela Região Metropolitana, fiquei revoltada, observando
prédios construídos para a população de baixa renda e o desrespeito por esse
povo com a terrível realidade da falta de um espaço verde, de uma horta
comunitária, de um lugar para as crianças brincarem. Será que os moradores não
têm filhos? E, se tem, quando não estão na escola, são prisioneiros nos
minúsculos apartamentos?
Quando criança, estudei em um grupo escolar, que era uma
chácara e que hoje perdeu seu grande terreno e está cheio de construção, sem o
verde das árvores.
Quando aluna da Escola Normal Modelo, em uma das salas de
aula, me deliciava, vendo da ampla janela, e lindo jardim, junto à rua Paraíba,
hoje ocupado por feia construção. Deseducativo e assassinato da bela paisagem
com suas árvores e flores. Em frente à Escola Normal Modelo, no jardim, havia
uma romântica fonte. Por que foi destruída? O presente é produto do passado.
A nossa Escola Normal Modelo (EMN) dava-nos a ideia de
largueza, de amplidão, de ausência de barreiras. E, naquele ambiente, a
mocidade se movimentava para frente e para o infinito. Os professores
participavam dessa movimentação, sem barreiras. No além estava a meta. Dentro
do grande espaço físico, havia o espaço cultural, sem limites. Lembro-me ainda
no Curso Preparatório, onde adquiríamos cultura, a atitude avançada da
professora de História, não adotando um determinado livre: qualquer um que a
aluna tivesse em casa seria o adotado. Esse gesto democrático marcou a minha
formação. E, na história, é que fazem nascer discussões que iram contribuir
para a liberdade do pensamento e a base para o futuro Curso de Aplicação onde
seriam estudados as ideias dos grandes educadores. Bendita liberdade!
O espaço físico da nossa escola se projetou nos outros,
na significativa formação completa das alunas. Não me lembro de nenhuma aluna
ser admoestada ou punida por falta grave. Havia liberdade entre educador e
educando, mas não desrespeito. Ninguém precisava ser o que não era, isto é, ser
hipócrita, porque podia expor seus pensamentos com liberdade, com respeito
mútuo. Lembro-me de um episodio que mostra o clima de liberdade e respeito
naquela época: algumas alunas, sem aula, andavam pelos corredores, com excesso
de barulho e batendo nas portas das salas de aula. Um professor, furioso com a
atitude dessas alunas, chegou à porta, gritando contra elas. Uma aluna desse
professor falou em voz alta: “Professor, o senhor não pode xingar essas alunas
porque a sua filha está no meio”. Sem mais fala, o professor voltou à calma, e
a aula continuou, e o bando indisciplinado foi em fretne,
Nos nossos dias já não há espaço físico, a criança e o
adolescente vivem prisioneiros, em solidão. E muitos pais ricos pensam que o
dinheiro é tudo e locupletam seus filhos de ricos presentes, mas o que,
realmente os filhos desejam é carinho, atenção, presença. Esses filhos vivem
isolados em seus aposentos com todos os aparelhos que a tecnologia oferece, mas
esses aparelhos não têm coração, não sabem mostrar carinho, compreensão,
diálogo. Os aparelhos dão respostas, não sabem lidar com as pessoas e se tornam
agressivos ou recolhidos ao seu mundo. É claro que o uso da tecnologia é
necessário, mas o que está ocorrendo é o desiquilíbrio nesse uso. Muitos acham
um encanto a criana que ainda não sabe falar, mas já sabe usar o computador.
Essa criança deveria estar brincando com uma boneca e não com máquinas. Seria
oportuno as mães lerem sobre a importância do brinquedo no desenvolvimento
geral da criança. Os grandes educadores, os notáveis psicólogos, tem muito que
ensinar aos pais desavisados. Essa infância criada à sombra de máquinas, quando
adulta, nada terá para recordar: nunca subiu em árvores, nunca jogou bolinhas
de gude, nunca fez batizado de bonecas, nunca soltou papagaio, nunca bateu o
martelo no dedo, construindo um carrinho, nunca fez cozinhadinho em fogão
improvisado, nunca andou descalço e nem sujou a roupa em brincadeiras com
amigos, nunca tem um cachorrinho de verdade, nunca tomou leite ao pé da vaca,
nunca viu um pintinho saindo do ovo. Se não gosta de ler, então não se encantou
com o Patinho Feio, a Gata Borralheira, as aventuras de Pinóquio, nunca foi o
Sítio do Picapau Amarelo. Será que já ouviu falar em Cecília Meireles? Será que
leu “A canção dos tamanquinhos”? Será que sabe que é um tamanco? No domínioda
máquina mata-se a imaginação, sendo proibido sonhar.
Graças à ENM tive o espaço físico e espiritual, li os
mais lindos livros da literatura infantil e adulta, além dos livros de
pedagogia dos mais importantes pensadores daquela época e que hoje pontificam.
E aprendi uma lição que tem norteado a minha vida: a grandeza dentro da
simplicidade.
Em todos os tempos, grandes pensadores e pessoas de ação
se preocuparam com a felicidade humana e deixaram marcas eternas. Voltemos um
pouco a elas e meditamos no seu ledado. Quem sabe neles encontramos o que
buscamos? Ei-los:
“Aquilo que guia o mundo não são as máquinas mas as
ideias”. (Victor Hugo)
“Não acabe com suas ilusões. Quando elas se forem você
pode ainda exitir, mas não estará mais vivendo”. (Mark Twain)
“O Homem não é nada além daquilo que a educação faz
dele”. (Immanuel Kant)
“Se pudermos contar, através da arte, os impulsos
agressivos do homem, a espécie sobreviverá à crise que atravessa (Johudi
Menuhim)
“Essas crianças criadas em torno do cimento armado e ar
condicionado, hipnotizadas desde pequenas por uma tela radiotiva chamada
televisão, antes mesmo de saberem falar, estão condenadas à droga ou ao
suicídio”. (Ernesto Sábato)
“Ai de nós, que perdemos a sabedoria pelo conhecimento e
o conhecimento pela informação”. (T. S. Elliot)
“Estamos todos tão juntos e, no entanto, estamos morrendo
de solidão.” (Albert Schweitzer)
“Sem desconhecer a aspereza dos nossos tempos, a poesia
permanece no campo de existir como fenômeno de equilíbrio, compensação e
recompensa, com a faculdade de preservar a infância”. (Henriqueta Lisboa)
“Seja qual for o caminho que eu escolher, um poeta já
passou por lá antes de mim”. (Sigmund Freud)
“Quando tudo chegar ao caos, a escola ainda é a salvação”
(Helena Antipoff)
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