segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Educação, qual o seu futuro?A antiga Escola Normal Modelo, um marco na História, texto original de Elza Moura


Texto publicado originalmente na Revista Pedagógica do Instituto de Educação de Minas Gerais

Ano 3 \ Número 3\ maio 2015 \ Belo Horizonte – MG


Educação, qual o seu futuro?A antiga Escola Normal Modelo, um marco na História


Elza Moura

Nos tempos de hoje parece que é proibido sonhar, planejar, recordar sentimentos delicados, pensamentos elevados são considerados ridículos, só valendo a grosseira, a ausência da ternura, a amizade... O que está acontecendo com a humanidade em que o ser humano está se desumanizando e se tornando inferior ao animal selvagem. Por onde anda a sua família? E a escola? Não mais existem?
Tenho pensado nas habilitações de agora que são construídas para o povo, cada vez menores e naquelas casas de antigamente, vastas, acolhedoras, com gesto de lar, contendo jardim, horta e quintal, não mais existem. Hoje é casa refeitório e dormitório, nem sempre refeitório e dormitório porque os filhos vivem em clubes ou em casas dos colegas. Lembre-se de um dos livros de leitura de grupo escolar, e Livro de Elza, em que a família, à hora da refeição, tinha o pai à cabeceira, falando sobre assuntos da vida: civismo, estudos, trabalho, responsabilidade. Hoje, esse quadro evocado deve causar risinho de deboche na mocidade atual. A vida mudou muito, mas os valores são os mesmos. A questão de espaço é crucial.
O Brasil é vasto, mas o povo vive em reduzidos espaços. Há pouco, viajando pela Região Metropolitana, fiquei revoltada, observando prédios construídos para a população de baixa renda e o desrespeito por esse povo com a terrível realidade da falta de um espaço verde, de uma horta comunitária, de um lugar para as crianças brincarem. Será que os moradores não têm filhos? E, se tem, quando não estão na escola, são prisioneiros nos minúsculos apartamentos?
Quando criança, estudei em um grupo escolar, que era uma chácara e que hoje perdeu seu grande terreno e está cheio de construção, sem o verde das árvores.
Quando aluna da Escola Normal Modelo, em uma das salas de aula, me deliciava, vendo da ampla janela, e lindo jardim, junto à rua Paraíba, hoje ocupado por feia construção. Deseducativo e assassinato da bela paisagem com suas árvores e flores. Em frente à Escola Normal Modelo, no jardim, havia uma romântica fonte. Por que foi destruída? O presente é produto do passado.
A nossa Escola Normal Modelo (EMN) dava-nos a ideia de largueza, de amplidão, de ausência de barreiras. E, naquele ambiente, a mocidade se movimentava para frente e para o infinito. Os professores participavam dessa movimentação, sem barreiras. No além estava a meta. Dentro do grande espaço físico, havia o espaço cultural, sem limites. Lembro-me ainda no Curso Preparatório, onde adquiríamos cultura, a atitude avançada da professora de História, não adotando um determinado livre: qualquer um que a aluna tivesse em casa seria o adotado. Esse gesto democrático marcou a minha formação. E, na história, é que fazem nascer discussões que iram contribuir para a liberdade do pensamento e a base para o futuro Curso de Aplicação onde seriam estudados as ideias dos grandes educadores. Bendita liberdade!
O espaço físico da nossa escola se projetou nos outros, na significativa formação completa das alunas. Não me lembro de nenhuma aluna ser admoestada ou punida por falta grave. Havia liberdade entre educador e educando, mas não desrespeito. Ninguém precisava ser o que não era, isto é, ser hipócrita, porque podia expor seus pensamentos com liberdade, com respeito mútuo. Lembro-me de um episodio que mostra o clima de liberdade e respeito naquela época: algumas alunas, sem aula, andavam pelos corredores, com excesso de barulho e batendo nas portas das salas de aula. Um professor, furioso com a atitude dessas alunas, chegou à porta, gritando contra elas. Uma aluna desse professor falou em voz alta: “Professor, o senhor não pode xingar essas alunas porque a sua filha está no meio”. Sem mais fala, o professor voltou à calma, e a aula continuou, e o bando indisciplinado foi em fretne,
Nos nossos dias já não há espaço físico, a criança e o adolescente vivem prisioneiros, em solidão. E muitos pais ricos pensam que o dinheiro é tudo e locupletam seus filhos de ricos presentes, mas o que, realmente os filhos desejam é carinho, atenção, presença. Esses filhos vivem isolados em seus aposentos com todos os aparelhos que a tecnologia oferece, mas esses aparelhos não têm coração, não sabem mostrar carinho, compreensão, diálogo. Os aparelhos dão respostas, não sabem lidar com as pessoas e se tornam agressivos ou recolhidos ao seu mundo. É claro que o uso da tecnologia é necessário, mas o que está ocorrendo é o desiquilíbrio nesse uso. Muitos acham um encanto a criana que ainda não sabe falar, mas já sabe usar o computador. Essa criança deveria estar brincando com uma boneca e não com máquinas. Seria oportuno as mães lerem sobre a importância do brinquedo no desenvolvimento geral da criança. Os grandes educadores, os notáveis psicólogos, tem muito que ensinar aos pais desavisados. Essa infância criada à sombra de máquinas, quando adulta, nada terá para recordar: nunca subiu em árvores, nunca jogou bolinhas de gude, nunca fez batizado de bonecas, nunca soltou papagaio, nunca bateu o martelo no dedo, construindo um carrinho, nunca fez cozinhadinho em fogão improvisado, nunca andou descalço e nem sujou a roupa em brincadeiras com amigos, nunca tem um cachorrinho de verdade, nunca tomou leite ao pé da vaca, nunca viu um pintinho saindo do ovo. Se não gosta de ler, então não se encantou com o Patinho Feio, a Gata Borralheira, as aventuras de Pinóquio, nunca foi o Sítio do Picapau Amarelo. Será que já ouviu falar em Cecília Meireles? Será que leu “A canção dos tamanquinhos”? Será que sabe que é um tamanco? No domínioda máquina mata-se a imaginação, sendo proibido sonhar.
Graças à ENM tive o espaço físico e espiritual, li os mais lindos livros da literatura infantil e adulta, além dos livros de pedagogia dos mais importantes pensadores daquela época e que hoje pontificam. E aprendi uma lição que tem norteado a minha vida: a grandeza dentro da simplicidade.
Em todos os tempos, grandes pensadores e pessoas de ação se preocuparam com a felicidade humana e deixaram marcas eternas. Voltemos um pouco a elas e meditamos no seu ledado. Quem sabe neles encontramos o que buscamos? Ei-los:
“Aquilo que guia o mundo não são as máquinas mas as ideias”. (Victor Hugo)
“Não acabe com suas ilusões. Quando elas se forem você pode ainda exitir, mas não estará mais vivendo”. (Mark Twain)
“O Homem não é nada além daquilo que a educação faz dele”. (Immanuel Kant)
“Se pudermos contar, através da arte, os impulsos agressivos do homem, a espécie sobreviverá à crise que atravessa (Johudi Menuhim)
“Essas crianças criadas em torno do cimento armado e ar condicionado, hipnotizadas desde pequenas por uma tela radiotiva chamada televisão, antes mesmo de saberem falar, estão condenadas à droga ou ao suicídio”. (Ernesto Sábato)
“Ai de nós, que perdemos a sabedoria pelo conhecimento e o conhecimento pela informação”. (T. S. Elliot)
“Estamos todos tão juntos e, no entanto, estamos morrendo de solidão.” (Albert Schweitzer)
“Sem desconhecer a aspereza dos nossos tempos, a poesia permanece no campo de existir como fenômeno de equilíbrio, compensação e recompensa, com a faculdade de preservar a infância”. (Henriqueta Lisboa)
“Seja qual for o caminho que eu escolher, um poeta já passou por lá antes de mim”. (Sigmund Freud)

“Quando tudo chegar ao caos, a escola ainda é a salvação” (Helena Antipoff) 



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