domingo, 28 de setembro de 2025

Trilhas Urbanas: percursos sócio-históricos-geográficos na cidade de Belo Horizonte

 


Quando assumi a coordenação de área, elaborei um projeto para ser realizado em uma tarde de sábado com os alunos do primeiro ano do novo ensino médio. Contudo, o projeto não foi realizado por alguma questão técnica ou burocrática da gestão (não sei se da escola ou da secretaria). Um ano depois, um outro projeto de trilha urbana elaborado por outro professor foi implementado no turno da manhã. Com o intuito de preservar algumas ideias aqui apresentadas, resolvi postar no blog o projeto como forma de preservação da memória.

O Projeto "Trilhas Urbanas: percursos sócio-históricos-geográficos na cidade de Belo Horizonte"

 


Introdução

O crescimento das cidades é frequentemente percebido como um símbolo de progresso e desenvolvimento. Contudo, esse processo de transformação pode gerar profundas modificações na paisagem urbana. Prédios históricos são muitas vezes demolidos e substituídos por construções maiores e mais modernas. O desaparecimento de estruturas arquitetônicas de valor histórico, no entanto, pode gerar a necessidade de preservar as construções remanescentes, com o objetivo de solidificar a identidade histórico-cultural da cidade. Essa valorização do passado tornou-se mais comum no Brasil a partir das últimas décadas do século XX. Nesse período, observou-se a restauração e a revitalização dos centros históricos de inúmeras cidades brasileiras, o que possibilitou o incremento das atividades turísticas e comerciais nesses centros urbanos.

A ideia de centro histórico refere-se a um conjunto de edifícios que possui valor cultural, social, artístico e turístico, constituindo a base original da cidade e a fundamentação para a construção de seus edifícios, instituições e infraestrutura. Por ser o local onde se encontram as primeiras edificações que marcaram o nascimento da cidade, o centro histórico é um espaço geralmente protegido por órgãos e autoridades, por meio de leis e regulamentos, que visam impedir que suas estruturas sejam demolidas ou modificadas. A capital mineira, por exemplo, foi planejada pelo engenheiro Aarão Reis e inaugurada em 1897, concretizando um moderno projeto de planejamento urbano que se destacava pela construção de grandes avenidas, ruas arborizadas e bairros desenhados. Belo Horizonte está situada na região conhecida como Mares de Morros, uma forma típica da paisagem do estado de Minas Gerais.

O centro histórico de Belo Horizonte concentra alguns dos patrimônios e pontos turísticos mais importantes da cidade. Destacam-se o Bairro dos Funcionários com vários exemplos de “casas tipo”; a Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem; o prédio do IEMG, localizado na rua Pernambuco, 47; a Rua João Pinheiro com seus casarões históricos; e a Praça da Liberdade, centro do poder da capital mineira.

No mês de dezembro, comemoramos, no dia 12, a fundação da cidade de Belo Horizonte e, no dia 16, a criação da Escola Normal Modelo, que deu origem ao Instituto de Educação de Minas Gerais. Para celebrar de forma significativa estas datas, será realizado no último sábado de novembro e no primeiro sábado de dezembro um trabalho de campo no centro tradicional da capital mineira. Esta atividade será desenvolvida por meio do projeto Trilhas Urbanas: percursos sócio-históricos-geográficos na cidade de Belo Horizonte, realizado pelos professores de Ciências Humanas do Novo Ensino Médio do Instituto de Educação de Minas Gerais, com o apoio do Serviço de Orientação/Supervisão da instituição.

Este projeto busca envolver os estudantes do primeiro ano do Novo Ensino Médio, contribuindo para despertar uma percepção mais aguçada sobre o espaço urbano que circunda a escola. Percorrer a trilha urbana proposta permitirá ao estudante perceber tanto os problemas sociais decorrentes da estrutura urbana da capital mineira, quanto aqueles provocados pela falta de integração socioambiental. Os alunos poderão observar fatores ecológicos, tecnológicos, sociais e culturais. A compreensão desses fatores possibilitará também a reflexão sobre o processo de desenvolvimento histórico e social de transformação do meio natural e artificial de Belo Horizonte. Acreditamos que o projeto Trilhas Urbanas pode contribuir para a formação e o desenvolvimento de um sujeito crítico e independente, oferecendo aos alunos a oportunidade de identificar a permanência e a constante transformação do espaço artificializado, consolidando uma visão crítica da produção do espaço urbano e a valorização do patrimônio histórico e seus equipamentos ambientais, sociais e culturais.


PÚBLICO AO QUAL SE DESTINA

O público-alvo do nosso projeto são os alunos do primeiro ano do Novo Ensino Médio do Instituto de Educação de Minas Gerais (IEMG). Os estudantes do IEMG são provenientes de diversos bairros da capital e, alguns, de cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Muitos deles desconhecem a história e os marcos históricos da cidade. Além dos alunos, os professores das diversas áreas do conhecimento do IEMG também estão envolvidos neste trabalho sobre a cidade, com o intuito de torná-la mais próxima de seus próprios moradores e estudantes de nossa escola.


PERÍODO DE EXECUÇÃO

Efetivamente, o início da execução do projeto se dará na última semana do mês de outubro e na primeira semana do mês de novembro do ano letivo de 2022, com previsão para o fechamento do quarto bimestre. Após a realização da trilha urbana, será organizada uma exposição de trabalhos onde toda a comunidade escolar terá a oportunidade de compartilhar as várias leituras e conhecimentos sobre a cidade. A ideia é fazer deste projeto uma parte integrante da proposta pedagógica do quarto bimestre das turmas de primeiro ano do Novo Ensino Médio (turno da tarde). Isso se justifica pela importância da consolidação de uma identidade do aluno com a escola/cidade, ajudando-os a desenvolver um sentimento de pertença, elevando a autoestima e, ao mesmo tempo, proporcionando-lhes maior habilidade para transitar no meio social e para encontrar ou criar seus próprios espaços de lazer ou mesmo de trabalho. Buscaremos, assim, contribuir com a elevação da autoestima do nosso corpo discente.


JUSTIFICATIVA

Acreditamos que a produção do conhecimento é dialógica, ou seja, o saber produzido nas escolas deve nascer da conscientização do aluno em relação ao seu contexto social e cultural. Isso exige, por sua vez, um trabalho de resgate da identidade dos alunos, a partir de um maior contato com a história da cidade na qual ele está inserido como aluno, trabalhador e cidadão. Este trabalho não é simples, exigindo um esforço consciente que englobe teoria/análise e prática/ação, o que produz efeitos importantes na sua formação. No caso dos alunos do Instituto de Educação (que, brevemente, passará por uma grande restauração), um projeto que busca conhecer a história da cidade e, consequentemente, a trajetória da escola, possui uma importância ainda maior na vida acadêmica e pessoal do nosso corpo discente. É essencial reconhecer que ninguém amará, valorizará ou preservará aquilo que desconhece. O conhecimento é gerador de valoração, e a valoração é apropriação de valores.

Neste sentido, um projeto como Trilhas Urbanas tem o poder de ampliar a percepção do espaço histórico-geográfico como categoria de análise para a compreensão do desenvolvimento socioambiental, a partir de diversas áreas do conhecimento, com ênfase na artificialização do espaço antrópico. Além disso, a abordagem interdisciplinar na exploração de Belo Horizonte permitirá promover a construção de uma percepção mais crítica dos fatores econômicos, sociais e ambientais que moldam o território específico, capacitando o estudante a compreender o espaço público como meio para exercer a cidadania. Favorece, ainda, o conhecimento autorreflexivo dos atributos da paisagem urbana enquanto instrumento de aprendizagem.


OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

Consolidar a identidade de nossos alunos com a cidade onde vivem, visando a um conhecimento mais aprofundado da metrópole a partir de diferentes leituras. Propõe-se, assim, proporcionar ao aluno do primeiro ano do Novo Ensino Médio o desenvolvimento do sentimento de pertencimento, de autoestima e, ao mesmo tempo, maior habilidade para transitar no meio social, e para encontrar ou criar seus próprios espaços de lazer ou mesmo de trabalho.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Com a finalidade de atingir o objetivo geral, cada área do conhecimento trabalhará com objetivos específicos, como um meio para atingir o fim:

  • Atividades: Despertar o interesse do aluno por atividades de educação ambiental e educação patrimonial em sua cidade, construindo um olhar crítico sobre a cidade em suas múltiplas perspectivas: o meio ambiente urbano, as estruturas arquitetônicas, os prédios históricos, as contradições socioespaciais, os espaços do poder, os lugares da memória e os espaços de circulação (ruas, becos, galerias).

  • Português: Ser capaz de expressar sua identidade através da oratória e produção de textos.

  • Inglês: Compreender que no mundo contemporâneo as pessoas, devido aos meios de comunicação de massa e ao consumismo global, estão compartilhando das mesmas informações e produtos de consumo, muitas vezes de lugares longínquos e diferentes.

  • Educação Física: Identificar os lugares da cidade que são (ou que podem ser) utilizados para práticas esportivas ou para o lazer dos moradores de Belo Horizonte.

  • Arte: Habilitar o olhar para ver e perceber espaços da arte em sua cidade.

  • História: Compreender o lugar em que vivem, utilizando a memória local como elemento que ilumina o processo de descoberta, possibilitando construir diversas compreensões sobre a cidade.

  • Geografia: Compreender o espaço urbano e a segregação sócioespacial.

  • Sociologia: Trabalhar a ideia de “estranhamento", colocando em questão situações vivenciadas no cotidiano e tidas como esperadas ou normais; buscando respostas para essa expectativa de normalidade que envolve os fenômenos sociais e os torna inquestionáveis; assumindo uma postura investigativa frente a um mundo aparentemente conhecido e comum.

  • Filosofia: Trabalhar o conceito de cidadania de forma que os alunos se percebam enquanto parte da totalidade político-cultural da capital de Minas Gerais.

  • Biologia: Despertar o interesse do aluno por atividades de educação ambiental em sua cidade.


PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O projeto Trilhas Urbanas tem como foco principal o centro histórico de Belo Horizonte: o Bairro dos Funcionários, a Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem, a Rua João Pinheiro e a Praça da Liberdade. O local foi escolhido por reunir uma grande concentração de prédios históricos e equipamentos culturais da cidade. Todo o percurso será realizado a pé, partindo do Instituto de Educação de Minas Gerais, na rua Pernambuco, 47. A caminhada contará com a orientação de especialistas de diversas áreas do conhecimento (todos professores do Instituto de Educação) e seguirá roteiros previamente estabelecidos. Ao final do processo, busca-se o estabelecimento de vínculos de interesse e afetividade pelo local nos participantes, construindo um canal de comunicação positivo em relação ao Centro Histórico e, mais especificamente, em relação ao próprio prédio do Instituto de Educação, estabelecendo uma tendência à preservação do espaço histórico.

Os percursos foram definidos pela importância histórica ou peculiaridade dos locais da cidade. A trilha inicia pelo entorno do IEMG, segue para a Igreja da Boa Viagem, sobe a Rua João Pinheiro e culmina na Praça da Liberdade. Neste último ponto, cada grupo de alunos visitará um dos museus localizados na área. Durante todo o percurso, os alunos poderão captar imagens usando seus aparelhos celulares, gerando minivídeos e gravando áudios que narrem aspectos considerados importantes.


AVALIAÇÃO

Espera-se que, ao final do percurso, o aluno compreenda a interdisciplinaridade que proporcionou o aumento da percepção e da relação socioespacial para o desenvolvimento socioambiental da localidade percorrida.

O melhor relatório será escolhido para desenvolver um painel que deverá ficar exposto em um ponto estratégico da escola. Este relatório será premiado pelo professor coordenador do projeto.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

KUSSUNOKI, Marcelo; MADUREIRA, Flávia Mesquita Sampaio; SANDRE, Adriana Afonso. Trilha Urbana, Mobilidade e Integração Social: um estudo aplicado à avenida Sumaré em São Paulo. Revista Eletrônica: LABVERDE-USP. São Paulo, 2015.

FARIAS, Eloisa Maria; BANDEIRA, Karolina do Santos. A Trilha Urbana Como Estratégia de Estudo Socioambiental No Curso de Formação Inicial de Professores. X Salão de Iniciação Cientifica-PUCRS. Canoas, 2009.

LOPES, Laura Patricia. A Educação Ambiental Presente Na Trilha Urbana Em Curitiba-PR: Formação de Docentes. XI Encontros Paranaense de Educação Ambiental. Curitiba, 2015.

OLIVEIRA, Lucélia de Almeida Santos. Trilha Urbana Para a Percepção Ambiental. II Encontro Cientifico Multidisciplinar da Faculdade Amadeus. Aracaju, 2016.

LOPES, Claudivan Sanches; NERIS, Graziele Cristina Guimarães. Trilhas Urbanas: a cidade e o ensino de Geografia. Publicado em Geoingá: Revista do Programa de Pós-Graduação em Geografia. Maringá, 2012.

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