Aurélio Pires: O 'Santo Agostinho' que Forjou a Educação Mineira
De 1906 a 1910, o nome de Aurélio Pires virou sinônimo de excelência em Minas Gerais. Ele não era apenas o primeiro diretor da histórica Escola Normal Modelo de Belo Horizonte (atual IEMG), mas uma força da natureza no mundo intelectual e da educação, reverenciado por todos como Mestre Aurélio.
Aparência de Estátua, Mente de Revolucionário
Imagine um personagem saído de um quadro do El Greco. Alto, com um porte impecável e um ar de "candura severa". O biógrafo Pedro Nava o descreveu com "cenho negro e cerrado, as barbas brancas, a boca fortemente traçada", o que lhe dava ares de um Santo Agostinho.
Porém, essa casca austera de professor escondia muito mais:
O "Sans-Culotte" Disfarçado: Por trás do andar pausado e do gesto medido, pulsava um espírito revolucionário (um verdadeiro sans-culotte!) e um profundo idealismo republicano.
O Conversador Fascinante: A reserva era só boa educação. Na verdade, Mestre Aurélio era um conversador infatigável e cheio de graça, dono de uma oratória elegante que fascinava qualquer um.
O Intelectual Gigante: Com uma erudição invejável, ele era um dos intelectuais mais reconhecidos de Minas Gerais. Afonso Arinos chegou a chamá-lo de "o melhor homem de Minas".
O Incansável Defensor da Medicina e da Educação
A vida de Aurélio Pires foi uma maratona de trabalho, talento e patriotismo. Ele dedicou sua vida a um ideal: a educação como um direito e a formação da juventude mineira.
A Batalha pela Faculdade de Medicina: Por vinte anos, ele lutou com unhas e dentes pela criação de uma escola de medicina na capital. Chegou a rebater críticos com textos ácidos sob o pseudônimo de "Avérrhoes" (um médico e filósofo árabe do século XII). O resultado? A inauguração da Faculdade de Medicina de BH em 1911. Em 2006, em um ato de justiça histórica, sua assinatura foi incluída entre as dos 13 fundadores.
Reorganizador da Escola Normal: Como diretor do que hoje é o IEMG, ele implantou a Reforma Wenceslau Brás, elevando o curso de formação de professoras de três para quatro anos, garantindo uma formação mais sólida e prática.
Da Febre Amarela à Grande Família
Nascido em 1862 no Serro (MG), Aurélio Pires trazia o DNA da Revolução de 1842, herdado de seu avô, o Barão do Guaiçui. Seu irmão mais velho, Antônio Olintho Pires, foi o primeiro Presidente do Estado de Minas Gerais no regime republicano.
Ele podia ter seguido a política, mas focou na carreira docente. A jornada não foi fácil:
A Desistência da Medicina: Em 1882, mudou-se para o Rio de Janeiro para cursar Medicina, tendo que se desdobrar em aulas de latim e como guarda-livros à noite. O excesso de trabalho e uma crise de febre amarela em 1884 o forçaram a abandonar o sonho de ser médico.
O Retorno e o Casamento: Exausto, voltou para Minas, onde se casou com sua prima Sásinha em 1885. Apesar da tragédia de perder a primeira filha, o casal formou uma prole gigantesca: dezesseis filhos!
Mestre Aurélio era jornalista em mais de vinte jornais, farmacêutico, orador e autor de obras importantes como Sinonímia Química e Homens e Fatos do meu tempo.
Sua vida intensa de 75 anos se encerrou no Rio de Janeiro, em 1937. No seu funeral, Afonso Arinos resumiu a importância daquele que representou, no sentido mais pleno, o anseio pela transformação do Brasil através da educação: "acabava de falecer o melhor homem de Minas".
Quer saber mais sobre algum dos outros fundadores da educação mineira? Leia o livro "Histórias Inspiradoras: Biografias que moldaram o Instituto de Educação de Minas Gerais":
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