sábado, 7 de julho de 2012

Apontamentos para uma história da antropologia cultural




Apontamentos para uma história da antropologia cultural

Ronaldo Campos


Para a atual pesquisa científica, a abordagem antropológica é uma das mais fecundas e promissoras, visto que nos permite revelar o cotidiano dos povos de acordo com o seu sistema cultural sem romper com os laços sociais inerentes de cada um. O olhar sobre essas maneiras típicas de apreender o mundo torna possível desvendar o particular de cada fato que possibilita a nossa aproximação das práticas próprias de cada grupo com os olhos dos homens de então, descentrando o nosso olhar e despojando dos condicionamentos históricos-ideológicos, dos maneirismos racionalistas e fantasiosos. E nas páginas que se seguem pode-se constatar o processo de estruturação da Antropologia como ciência autônoma.
Em sua raiz etimológica (antropos, homem; logos, ciência) significa a ciência do homem, ou seja, a ciência de a evolução da Humanidade e dos grupos humanos. A antropologia não é apenas o estudo de tudo o que compõe uma sociedade. Ela é o estudo de todas as sociedades humanas (a nossa inclusive), ou seja, das culturas humanas como um todo em suas diversidades históricas e geográficas. É uma ciência descritiva quando estuda os desenvolvimentos comuns do homem e as características dos diversos grupos; é comparativa e sistemática quando trata de explicar e reduzir a processos e leis a dinâmica de tais desenvolvimentos e diferenças, e de classificar os grupos segundo a dinâmica natural de sua diversificação histórica; é ciência aplicada quando estuda as possibilidades de controle das mudanças dos grupos humanos e sua organização. Ou seja, a Antropologia é uma abordagem integrativa que objetive levar em consideração as múltiplas dimensões do ser humano em sociedade, isto é como ser biológico, social e cultural. Sendo cada uma destas dimensões por si só muito ampla, o conhecimento antropológico geralmente é organizado em áreas que indicam uma escolha prévia de certos aspectos a serem privilegiados como a “Antropologia Física ou Biológica” (aspectos genéticos e biológicos do homem), “Antropologia Social” (organização social e política, parentesco, instituições sociais), “Antropologia Cultural” (sistemas simbólicos, religião, comportamento) e “Arqueologia” (descobrir, pesquisar e reconstruir, pelos restos, culturas e civilizações desaparecidas. Subdivide-se entre pré-histórica e clássica, a primeira se refere às civilizações que não possuíam escrita, e a segunda, auxilia a história baseada em documentos escritos). Além disso podemos utilizar termos como Antropologia, Etnologia e Etnografia para distinguir diferentes níveis de análise ou tradições acadêmicas.
Qualquer que seja a definição adotada é possível entender a antropologia como uma forma de conhecimento sobre a diversidade cultural, isto é, a busca de respostas para entendermos o que somos a partir do espelho fornecido pelo “Outro”; uma maneira de se situar na fronteira de vários mundos sociais e culturais, abrindo janelas entre eles, através das quais podemos alargar nossas possibilidades de sentir, agir e refletir sobre o que, afinal de contas, nos torna seres singulares, humanos. Por exemplo, para o antropólogo Claude Lévi-Strauss (1970:377) a etnografia corresponde “aos primeiros estágios da pesquisa: observação e descrição, trabalho de campo”. A etnologia, com relação à etnografia, seria “um primeiro passo em direção à síntese” e a antropologia “uma segunda e última etapa da síntese, tomando por base as conclusões da etnografia e da etnologia”.

Há uma certa ambiguidade no uso do termo antropologia cultural, a saber: nos Estados Unidos é mais usada a designação Antropologia Cultural, enquanto que na Grã-Bretanha o termo antropologia social designa ou a etnologia, ou a antropologia cultural. Nos países europeus – por exemplo, na França – observa-se uma tendência para o uso dos três termos que representam os níveis de pesquisa que, gradualmente, vêm estabelecendo nos Estados Unidos dentro da Antropologia Cultural: etnografia, etnologia comparada, antropologia social. Os autores nacionais fazem uso de ambas as designações.
Philippe Laburthe-Tolra e Jean Pierre Warnier explicam os motives das diferenças na terminologia e no uso delas: “Por oposição à antropologia americana definida e considerada uma antropologia cultural herdeira de Herder e de Tylor, a antropologia definiu-se na Grã-Bretanha por referência a Morgan e Durkheim, isto é, uma antropologia social. À medida que não existe civilização que não seja a de uma dada sociedade que não seja portadora de uma civilização, os adjetivos ‘cultural’ e ‘social’ que qualificam, respectivamente, a antropologia americana e britânica não indicam uma diferença de ênfase, ou, antes, de opção quanto à forma escolhida para abordar os fatos socioculturais.” (LABURTHE-TOLRA, P., WARNIER, J.-P., Etnologia-Antropologia. Petrópolis: Vozes, 1997, p.68.)



A reflexão do homem sobre o homem e sua sociedade, e a elaboração de um saber é algo tão antigo quanto à própria humanidade, e ocorreram nos quatro cantos do mundo. Por exemplo, muito antes da constituição da antropologia como ciência (aproximadamente quatro séculos antes de Cristo) Confúcio diz que “A natureza dos homens é a mesma, são os seus hábitos que os mantém separados”(LARAIA, Roque de Barros. Cultura – um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. p.10) . O que significa que o homem não precisou de um saber constituído para interrogar-se sobre si mesmo. Pois, em todas as sociedades existiram homens que observavam homens e que elaboraram formas de explicação para as diferenças e semelhanças entre eles e os outros, onde poderia ocorrer a negação ou a afirmação da condição humana do grupo observado. Ou seja, no decorrer da História da humanidade tentou-se descobrir a chave do enigma que explicaria o motivo de termos na espécie humana lado a lado uma unidade biológica da espécie e uma grande diversidade cultural.
Nos próximos paragráfos, seguirei o percurso proposto por Laraia no seu livro Cultura – um conceito atropológico, e procurarei observar de modo claro o fato que grande parte das teorias elaboradas não conseguiu explicar tal dilema em toda a sua extensão. Assim, contrariamente a muitas das teorias, podemos afirmar as características biológicas não são determinantes das diferenças culturais: por exemplo, se uma criança brasileira for criada na França (se for colocada desde o início em situação conveniente de aprendizado), ela crescerá como uma francesa, aprendendo a língua, os hábitos, crenças e valores dos franceses. Podemos citar, ainda, o fato de que muitas atividades que são atribuídas às mulheres numa cultura são responsabilidade dos homens em outra. A espécie humana se diferencia anatômica e filologicamente através do dimorfismo sexual, mas é falso dizer que as diferenças de comportamentos existentes entre as pessoas de sexos diferentes sejam determinadas biologicamente. As distinções entre os sexos é fruto de um aprendizado, que é gerado a partir de um processo que chamamos de endoculturação (processo de aprendizagem e educação de uma cultura, desde a infância até à idade adulta).
Tentou-se também explicar as diferenças culturais entre os povos a partir das variações climáticas e geográficas, isto é, através de um determinismo geográfico considerava-se que as diferenças do ambiente físico condicionam (e/ou determinam) a diversidade cultural. Marco Pólo afirma que:
Os povos do sul têm uma inteligência aguda, devido à raridade da atmosfera e ao calor; enquanto os das nações do norte, tendo se desenvolvido numa atmosfera densa e esfriados pelos vapores dos ares carregados, têm uma inteligência preguiçosa.

E Jean Bodin por sua vez nos diz que

“Os povos do norte têm um liquido dominante de vida o fleuma, enquanto os do sul são dominados pela bílis negra. Em decorrência disso, os nórdicos são fieis, leais aos governantes, cruéis e pouco interessados sexualmente; os do sul são maliciosos, engenhosos, abertos, orientados para a ciência, mas mal adaptados para as atividades políticas.

Entretanto, tais teorias que criadas no século XIX, ganharam muita popularidade esbarram numa constatação como pode haver uma grande diversidade cultural localizada em um mesmo tipo de ambiente físico. Um bom exemplo, são o lapões e os esquimós. Eles vivem em ambientes muito semelhantes – os lapões (no norte da Europa) e os esquimós (no norte da América). Era de se esperar que eles tivessem comportamentos semelhantes, mas seus estilos de vida são bem diferentes: os esquimós constroem os iglus amontoando blocos de gelo num formato de colméia e forram a casa por dentro com peles de animais, com a ajuda do fogo, eles conseguem manter o interior da casa aquecido e quando quererem se mudar, o esquimó abandona a casa levando apenas suas coisas e constrói um novo iglu; por sua vez, os lapões vivem em tendas de peles de rena, quando desejam se mudar, eles têm que desmontar o acampamento, secar as peles e transportar tudo para o novo local. Eles criam renas, enquanto os esquimós apenas caçam renas.
Este exemplo e tantos outros os quais podemos recorrer servem para mostrar as diferenças de comportamentos entre os homens não podem ser explicadas através das diversidades somatológicas ou mesológicas. Tanto o determinismo geográfico como o determinismo biológico é incapaz de resolver tal dilema proposto inicialmente. As diferenças existentes entre os homens não podem ser explicadas a partir das limitações impostas pelo meio ambiente ou pelo seu aparato físico, visto que a grande qualidade do homem foi a de romper com as suas próprias limitações. Pois, caso contrário, como explicar a seguinte pergunta: “Será que o sol que brilhou para os livres gregos e romanos emitem diferentes raios sobre os seus descendentes?”


2. A Cultura e Antropologia

É surpreendente que várias culturas não tenham uma palavra específica para a idéia de cultura. E isto não significa que essas culturas não tivessem desenvolvido formas ‘avançadas’ de consciência de si enquanto sociedades organizadas. Os gregos, por exemplo, tinha a MÁTHÊMA, a idéia de ‘algo abstrato’ que se opõe à idéia de concretude da ‘Natureza’ ou PHISIS (o reino da pura necessidade). Palavra Latina CULTÛRA - que significa ‘lavoura, cultivo dos campos’ e, ao mesmo tempo, ‘instrução, conhecimentos adquiridos’ - vai surgir nos primeiros séculos do milênio em Roma, mas não será utilizada para definir os traços distintivos dos diferentes povos do Império. A primeira vez que o termo ‘cultura’ aparece como um conceito de cunho antropológico é na Alemanha, em 1793, no verbete Kultur do Dicionário Adelung : “A cultura é o aperfeiçoamento do espírito humano de um povo.” Assim, haveriam diferentes níveis de ‘aperfeiçoamento espiritual’ entre as etnias e subentende-se que cada povo teria um determinado grau de desenvolvimento nesta escala. Desde o início a noção de cultura foi etnocêntrica porque desqualificava as sociedades ‘primitivas’ e tradicionais frente a sua própria e suposta superioridade cultural (na verdade: superioridade militar, tecnológica e científica). A partir da Revolução Francesa, com o aparecimento da CIVILIS ou do ideal de cidadania, o termo ‘cultura’ será freqüentemente associado à idéia de um sistema de atitudes, crenças e valores de uma sociedade e oposto à noção de ‘civilização’, geralmente visto como seu complemento material. Por volta de 1850, o termo ‘cultura’ passou a ser utilizado para distinguir a espécie humana dos outros animais. Desde então, a noção de cultura passaria por diversas transformações e metamorfoses. Entretanto, não existe um consenso, na antropologia moderna, sobre o conceito de cultura.
No final do século XVIII e no início do XIX. O termo cultura surge a partir da síntese de dois termos feita por Edward Tylor: o termo germânico Kultur, que era usado para simbolizar tosos os aspectos espirituais de uma comunidade, e a palavra francesa Civilization referia-se às realizações materiais de um povo.
Edward Tylor sintetizou o significado desses dois termos no vocábulo inglês Culture que tomando o seu sentido etnológico é um complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade.
Tylor foi o primeiro a formular o conceito de cultura do ponto de vista antropológico da forma como é utilizado atualmente. Na verdade, ele formalizou uma idéia que vinha crescendo desde o iluminismo. John Locke, em 1690, afirmou que a mente humana era uma caixa vazia no nascimento, dotada de capacidade ilimitada de obter conhecimento, através do que hoje chamamos de endoculturação, Tylor enfatizou a idéia do aprendizado na sua definição de cultura. John Locke, no seu livro Ensaio sobre o entendimento humano, 1690, demonstrou que a mente humana não é mais que uma caixa vazia por ocasião do nascimento, dotada apenas da capacidade ilimitada de obter conhecimento, através da endoculturação. Ele refutou fortemente a crença de que princípios e verdades são inatos, impressos hereditariamente na mente humana, ao mesmo tempo em que O homem é um ser predominantemente cultural. Graças à cultura, ele superou suas limitações orgânicas. O homem conseguiu sobreviver através dos tempos com um equipamento biológico relativamente simples. Por exemplo, Um esquimó que deseje morar num país tropical, adapta-se rapidamente, ele substitui seu iglu e seus grossos casacos por um apartamento refrigerado e roupas leves – enquanto o urso polar não pode adaptar-se fora de seu ambiente. Em suma, a cultura é o meio de adaptação do homem aos diferentes ambientes. Ao invés de adaptar o seu equipamento biológico, como os animais, o homem utiliza equipamentos extra-orgânicos. Por exemplo, a baleia perdeu os membros e os pêlos e adquiriu nadadeiras para se adaptar ao ambiente marítimo. Enquanto a baleia teve que se transformar ela mesma num barco, o homem utiliza um equipamento exterior ao corpo para navegar.
O projeto de uma ciência do homem (uma ciência que toma o homem como objeto de conhecimento, e não mais a natureza) é algo muito recente. Podemos localizar o “início” desse a partir do avanço da colonização e das viagens do século XVIII quando os europeus passaram a manter contato com outros povos e a incluí-los na reflexão sobre a evolução da humanidade. Várias maneiras de interpretar a evolução humana surgiram; dentre elas, as versões monogenistas e poligenista. A monogenia, seguindo a idéia de "perfectibilidade" defendida por Rousseau, considerava a evolução da humanidade um gradiente que ia desde o estágio menos avançado (primitivo) ao mais avançado (civilização). As dissimilitudes entre os entre os homens eram consideradas provas dos diferentes estágios pelos quais passavam no seu processo evolutivo. Essa forma de interpretação foi adotada pelos etnólogos na reconstrução do passado dos povos "primitivos". A poligenia considerava que os diferentes centros de criação explicavam as diferenças físicas e morais entre os homens. Os poligenistas acreditavam que mesmo que tivessem ancestrais comuns, os homens diferenciaram-se tanto num dado momento que não restou a possibilidade de cruzamento sem que dele resultasse degeneração.
No inicio, a Antropologia precisava adquirir legitimidade entre as outras disciplinas cientificas. O que ocorreu na segunda metade do século XIX, durante o qual a antropologia se atribui objetos empíricos autônomos: sociedades (ditas) primitivas, ou seja, exteriores às civilizações européias ou norte-americanas. Supunha uma dualidade radical entre o observador e seu objeto. Para que haja uma experimentação possível é necessária uma separação entre sujeito observante e o objeto observado: esta é obtida na física (como na biologia, botânica ou zoologia) pela natureza suficientemente diversa dos dois termos presentes; na história, pela distância no tempo que separa o historiador da sociedade estudada; na antropologia, em uma distância definitivamente geográfica. As sociedades estudadas pelos primeiros antropólogos são sociedades longínquas às quais são atribuídas as seguintes características: dimensões restritas; pouco ou nenhum contato com grupos vizinhos; tecnologia precária ou nenhum tipo de tecnologia moderna; inexistência de especialização das atividades e funções sociais. São qualificadas simples, em conseqüência, elas irão permitir a compreensão, como numa situação de laboratório da “complexa” organização da nossa sociedade. Entretanto, esse objeto inicial da Antropologia (as populações não pertencentes à civilização ocidental), começa a desaparecer, pois com a instalação, nos países industrializados e desenvolvidos, de uma dinâmica da modernidade que cria um novo ordenamento da sociedade, que posteriormente irá ser deslocado para o restante do mundo (mesmo sem que grande parte dos países periféricos não tenha conseguido produzir essa dinâmica, eles irão copiar ou transladar uma espécie de simulacro do ordenamento existente na Europa e nos Estados Unidos), em suma, o dos “selvagens” não é de forma alguma poupado pela chamada evolução social.
A cultura é um processo acumulativo. O homem recebe conhecimentos e experiências acumulados ao longo das gerações que o antecederam e, se estas informações forem adequada e criativamente manipuladas, permitirão inovações e invenções. Assim, estas não são o resultado da ação isolada de um gênio, mas o esforço de toda uma comunidade. Roger Keesing, antropólogo, em seu artigo "Theories of Culture" (1974), define cultura de acordo com duas correntes: As teorias que consideram a cultura como um sistema adaptativo: culturas são padrões de comportamento socialmente transmitidos que servem para adaptar as comunidades humanas ao seu modo de vida (tecnologias, modo de organização econômica, padrões de agrupamento social, organização política, crenças, práticas religiosas, etc.). As teorias idealistas da cultura são divididas em três abordagens: a primeira considera cultura como sistema cognitivo: cultura é um sistema de conhecimento, "consiste de tudo aquilo que alguém tem de conhecer ou acreditar para operar de maneira aceitável dentro da sociedade"; a segunda abordagem considera cultura como sistemas estruturais: define cultura como "um sistema simbólico que é a criação acumulativa da mente humana (o seu trabalho consiste em descobrir na estrutura dos domínios culturais – mito, arte, parentesco e linguagem – os princípios da mente que geram essas elaborações culturais); a terceira abordagem considera cultura como sistemas simbólicos: cultura é um sistema de símbolos e significados partilhados pelos membros dessa cultura que compreende regras sobre relações e modos de comportamento.
A cultura é uma lente através da qual o homem vê o mundo - pessoas de culturas diferentes usam lentes diferentes e, portanto, têm visões distintas das coisas. O fato de que o homem vê o mundo através de sua cultura tem como conseqüência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural (isso é denominado etnocentrismo ), depreciando o comportamento daqueles que agem fora dos padrões de sua comunidade – discriminando o comportamento desviante. Comportamentos etnocêntricos resultam em apreciações negativas dos padrões culturais de povos diferentes, práticas de outros sistemas culturais são vistas como absurdas.
Embora nenhum indivíduo conheça totalmente o seu sistema cultural, é necessário que o indivíduo tenha um mínimo de conhecimento da sua cultura para conviver com os outros membros da sociedade. Nenhum indivíduo é perfeitamente socializado. São estes espaços que permitem a mudança. Qualquer sistema cultural está num contínuo processo de mudança. Existem dois tipos de mudança cultural: interna, resulta da dinâmica do próprio sistema cultural. Esta mudança é lenta; porém, o ritmo pode ser alterado por eventos históricos, como catástrofe ou uma grande inovação tecnológica. A mudança externa é resultado do contato de um sistema cultural com outro. Esta mudança é mais rápida e brusca.
O tempo é um elemento importante na análise de uma cultura. Assim, da mesma forma que é importante para a humanidade a compreensão das diferenças entre os povos de culturas diferentes, é necessário entender as diferenças que ocorrem dentro do mesmo sistema.
O relativismo cultural está baseado no conceito de que todos os sistemas culturais são essencialmente iguais em relação ao seu valor, e as diferenças entre as diversas sociedades surgiram como resultado de suas próprias condições históricas, sociais e / geográficas. Esta postura choca-se diretamente com a corrente evolucionista, vigente até essa época, que definiam as ditas diferencias como o resultado de um conjunto de idênticos níveis evolutivos progressivos que cada uma das culturas atravessa a medida que se desenvolve.
Durante o primeiro terço do século XX, observa Laplantine na sua obra Aprender Antropologia, ocorrera uma revolução considerável na Antropologia: é o fim da dicotomia entre o observador (viajante, missionário, administrador) e o pesquisador erudito. “O pesquisador compreende a partir desse momento que ele deve deixar seu gabinete de trabalho para ir compartilhar a intimidade dos que devem ser considerados não mais como informadores a serem questionados, e sim como hospedes que o recebem e mestres que o ensinam”

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

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DURKHEIM, Emile. As Formas Elementares da Vida religiosa. São Paulo: Martins Fontes
FOURNIER, M. "Marcel Mauss ou a dádiva de si" In: Revista Brasileira de CiênciasSociais, ANPOCS, no. 21, pp. 104-112.
GEERTZ, Clifford. Nova luz sobre a antropologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
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LARAIA, Roque de Barros. Cultura – um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1970.
LINTON, Ralph. O Homem; uma introdução à antropologia. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
MAUSS, Marcel. Antropologia. São Paulo: Ática.

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