terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A educação brasileira – desafios e perspectivas

Ronaldo Campos

Ultimamente, tornou-se comum falar em colapso do sistema educacional brasileiro. Podemos perceber uma lamentação, uma queixa tanto por parte do professor, como por parte do aluno: a nossa remuneração é baixa; os alunos não estudam mais como antigamente; a escola mudou; a educação no Brasil não é valorizada pelo governo, as escolas não são tão competitivas e muitas outras falas são recorrentes. É certo que essa crise não se restringe apenas ao universo das escolas e das práticas educativas da nossa sociedade. Vivemos um momento de mudanças e de quebra de paradigmas que se especifica num estado de descontentamento generalizado manifestado em uma crise do cidadão, dos valores, da moral e dos costumes. Dessa forma, o que antes acreditávamos ser o certo (ou o mais adequado), hoje é questionado.
Pensar a educação nesse mundo globalizado e em constante transformação (que busca ser inclusivo, solidário e igualitário) não é tarefa das mais simples. Pelo contrário, há inúmeros problemas, como por exemplo, como lidar com o excesso de dados. Vivemos uma época onde a informação é obtida com extrema rapidez e em grande quantidade, o que pode nos levar ao risco de perder a objetividade ou utilizar dados incorretos e distorcidos. Outro problema pode ser encontrado na nossa dificuldade de lidar com a diversidade (com o diferente) e com as múltiplas manifestações culturais e identitárias presentes na sociedade. Nos dias de hoje, a relação identidade-diversidade é de suma importância para perceber as múltiplas manifestações (sociais, culturais, de gêneros, ideológicas) que agem como referências identitárias, muitas vezes transitórias, para os vários grupos de uma coletividade. Na contemporaneidade, os significados assumidos, portanto não são estáveis e sim processuais e a identidade deixa de ser um evento consumado para ser uma produção. Essa heterogeneidade não deriva de uma síntese, pelo contrário, é o pólo identitário que cede à diversidade e se multiplica em identidades.
Nesse mundo pós-moderno, onde as fronteiras foram “abolidas” graças às inovações tecnológicas dos meios de comunicação e de transportes, vivemos a sensação do caos, da falta de um arcabouço teórico que nos localize e nos dê segurança.
Somos invadidos por um turbilhão interminável de informações. Podemos descobrir em instantes um mundo infinito de possibilidades. Conduto, esse acesso ilimitado e diariamente aberto a todos acaba por nos impor uma série de responsabilidades e limites. Por exemplo, a produção ou a divulgação de dados e imagens pela internet não pode ser realizada sem critérios ou de maneira leviana. O modo como esses dados serão divulgados tem que passar por um crivo que verifique o impacto (as conseqüências) no nosso dia a dia.
Assim, somos obrigados a nos perguntar como pensar a educação nesse mundo globalizado e informatizado que nos impõe tantos desafios. A escola (e, conseqüentemente, o aluno) deve estar pronta para enfrentá-los. Será exigido da escola e dos alunos habilidades e competências, tais como ciência, eficácia, força, valores e capacidade na solução de questões que, por sua vez, exigirão um saber múltiplo, porque cada vez mais esses problemas se apresentam como diversos na sua abrangência e surpreendentes na habilidade de sua definição.
Não podemos esquecer que a educação não é um trabalho isolado do pedagogo ou do professor. A prática educativa (e o próprio ato de pensar a educação) exige uma visão interdisciplinar e uma intencionalidade. Pois, o ato de educar ao seu modo também é um tipo de ação política que envolve um processo individual e, ao mesmo tempo, coletivo. A escola (particular ou pública) relaciona com o sujeito a quem ambiciona educar. Simultaneamente, é um espaço social que tem um objetivo a ser cumprido. Não é imparcial e por essa razão participa de forma ampla do meio sócio-histórico-temporal onde se inseri ao interferir e, no mesmo momento sofrer a influência desse contexto. O que significa que a instituição escolar faz parte da realidade e a ela se menciona a todo instante, desde os fatos mais corriqueiros até as suas realizações mais ambiciosas.
Toda escola tem no seu projeto político pedagógico uma fundamentação filosófica, sociológica e antropológica que define qual a idéia de indivíduo que busca formar, ou seja, a escola forma um cidadão para uma determinada sociedade. Nesse processo ela sempre se depara com novos desafios, entre eles, o de instituir categorias mais apropriadas para atender a multipluralidade dos indivíduos que dela tomam parte. Admitir, incluir e respeitar essa diversidade é um aspecto importante para nortear a modificação de uma sociedade que ao longo de sua história foi marcado pela exclusão. Para alcançar essa qualidade na educação, há a necessidade de renovar toda a estrutura educacional deixando para trás o ensino arcaico e descontextualizado. Desse modo, se os estudantes têm acesso as inúmeras de possibilidades via tecnologia digital, então a escola não pode mais negar as modificações ocasionadas nos processos de aprendizagem, isto é, as políticas públicas educacionais devem ser repensadas, com o objetivo de valorizar não mais a simples transferência de conhecimentos de forma hierárquica e centralizada, mas sim, aquelas que instiguem a participação, a cooperação, a independência e o protagonismo do educando, capacitando-o para a integração nesse novo panorama social que se organiza.

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