sexta-feira, 3 de abril de 2009

Filosofia. Educação e Filosofia da Educação

Apontamentos sobre educação, filosofia e filosofia da educação

Ronaldo Campos

Nas últimas décadas, tem se tornado muito frequente o discurso acerca da crise da educação. Com certeza, tal crise não se restringe apenas ao universo das escolas e das práticas educativas da nossa sociedade. Essa crise pode ser apreendida num primeiro momento como uma crise na maneira como concebemos a educação. Sabemos que o sentido e o significado da educação tradicional já não é mais adequado para os padrões sócio-ideológico-político-econômico-cultural que vivemos. Em suma, estamos vivenciando uma crise de racionalidade.
Pensar a educação nesse mundo globalizado (que busca ser inclusivo) não é tarefa das mais simples. Hoje em dia, vivemos uma época de profunda diversidade e de multiculturalismos. Tal heterogeneidade das leituras de mundo também é marcada pela impossibilidade das teorias tradicionais de explicar a nova realidade. Vivemos a sensação do caos, da falta de um arcabouço teórico que nos localize e nos dê segurança no mundo.
Na contemporaneidade, somos invadidos por um turbilhão infindável de informações. Podemos conhecer o mundo em instantes. Temos milhares de possibilidades para descobrir as mais diferentes e variadas formas de estudos, projetos e práticas sobre a educação (ou sobre qualquer assunto) das culturas existentes no planeta. Esse acesso ilimitado e diariamente aberto a todos nós acaba por nos impor uma série de responsabilidades. A informação disponível não pode ser utilizada sem critério ou de maneira leviana. A maneira como essa informação deve ser divulgada também tem que passar por um crivo que verifique o impacto dessa no nosso dia a dia. Temos que ter clareza acerca das possibilidades de compreensão do processo educativo. Além disso, não podemos esquecer que a educação não é um trabalho isolado do pedagogo ou do professor. A prática educativa (e o próprio pensar a educação) exige uma visão interdisciplinar.
O fazer e o pensar a educação exige uma intecionalidade. Pois, a educação é um tipo de ação política. É um processo individual e, ao mesmo tempo, coletivo. Não existe individuo sem cultura. O ser humano desde o seu nascimento faz parte de uma sociedade (cultura). Ele aprende as regras, os significados simbólicos e os interditos para viver em sociedade. Ou seja, a educação (= socialização) é uma forma de introdução do Homem no universo cultural. Ele recebe a cultura pronta, mas também tem o poder (ao longo da sua existência) de contribuir para manter ou alterar essa cultura.
Então, se toda prática educativa é intencional (tem motivações e gera conseqüências), a educação sempre busca formar um individuo partindo sempre de um conceito ou idéia já formulado com determinados fins e objetivos previstos (o que não quer dizer que esses fins e objetivos serão alcançados plenamente). Toda abordagem educativa possui uma estrutura com idéias e pressupostos bem definidos, estudados e teorizados, isto é, toda proposta educativa tem que apresentar um certo conjunto conceitual que consiga garantir a coerência interna da proposta educativa e das articulações entre a teoria e a prática. O que permitirá ao condutor do processo educativo uma ação intencionalmente pensada. Ou seja, cabe ao professor distinguir entre aqueles paradigmas (que podem orientar a sua ação) com o objetivo de perceber as várias alternâncias da maneira como foi (e é) pensada a educação ao longo da história; concomitantemente, ele deverá também perceber quais foram (e quais são) as idéias mais pertinentes e as menos relevantes.
Para que essa intencionalidade ocorra, o professor tem que definir quais serão as suas ferramentas teóricas, estabelecendo pontos de contados para conduzir a sua interpretação do mundo e do processo educativo. O educador tem que ler o mundo. Cabe a ele apreender os dados e informações da realidade e interpretá-los com base nas teorias e paradigmas produzidos pela ciência. O que acabará por gerar a fundamentação da sua prática. O seu agir será intencional e conscientemente formulado; a sua ação será geradora de uma prática pedagógica.
A filosofia da educação é sem sobra de dúvidas uma importante ferramenta para o professor construir os seus pontos referenciais que conduzirão a sua prática pedagógica, pois, essa é uma maneira de pensar criticamente e de modo reflexivo a racionalidade que organiza e orienta as ações pedagógicas. Podemos perceber a partir da filosofia tanto o homem como o mundo. Ou seja, o saber filosófica nos permite entender o mundo a partir de determinados conceitos de Homem e de mundo.
Mas, quando tentamos definir filosofia ou filosofia da educação, percebemos que esta não é uma tarefa das mais simples, uma vez que existe uma pluralidade conceitual que varia de acordo com a concepção epistemológica defendida pelos diferentes filósofos. Alguns autores, se preocupam com a essência, outros se voltam para o fenômeno e para a experiëncia.
Segundo Demerval Saviani, a filosofia é uma reflexão radical-rigorosa acerca dos problemas apresentados pela realidade. Então, por analogia, a Filosofia da Educação é também uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre os problemas que a realidade educacional apresenta.
Cabe ao educador pensar sobre a sua prática cotidiana, isto significa que ele não faz uma simples enumeração das teorias da educação de a partir das concepções pedagógicas. Agir, pensar a prática pedagógica do professor exige uma certa habilidade de identificar, analisar e resolver os problemas da educação. Ou seja, a função da Filosofia da Educação se encontra na possibilidade de disponibilizar para os educadores um método de reflexão para analisar os problemas educacionais, abarcando toda a sua complexidade e encaminhando a solução de problemas (conflito entre filosofia de vida e ideologia na atividade do educador, a relação entre meios e fins da educação, a relação entre teoria e prática, os condicionamentos da atividade docente, até onde se pode contá-los ou superá-los)
Os educadores devem compreender toda prática pedagógica está embasada numa teoria, numa filosofia, isto é, em uma concepção de mundo, de educação e de homem que se pretende formar. Esta deveria ser a primeira definição a ser feita, antes mesmo de se definir quais os objetivos da educação.
A educação tradicionalmente tem sido pautada pelos princípios do silêncio, da obediência, do autoritarismo, da hierarquia, da ordem, da passividade, da dissimulação, (fingir o ensinar e o aprender) da omissão, da exclusão, da fraude, da rotulação e da desigualdade. Como resultado dessa prática espera-se que o aluno seja um cidadão crítico, atuante, participativo, honesto, solidário, criativo e humano. O que percebemos é que a Escola muitas vezes tem um discurso pautado de acordo com certas ideologias que na prática não são postos em prática.

2 comentários:

  1. Concordo plenamente com o texto apresentado. Infelizmente é a realidade, professores fingem ensinar e alunos fingem aprender, claro, existem exceções, pois também temos profissionais gabaritados e comprometidos com a educação, porém não é esse o caso.
    É preciso que os profissionais da educação conheçam a necessidade dos alunos, saiam do tradicional e invistam em uma nova educação.
    Dando ênfase ao aluno, e ensinar uma nova maneira de aprender a aprender.

    Leideane de Azambuja

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