quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Sócrates na Praça Sete (Texto de Ronaldo Campos)



Sócrates na Praça Sete (ou: O Mistério da Verdade de Boteco)

Olha, vou lhes dizer uma coisa com a sinceridade de quem já viu o Gabigol perder gol feito (e até perder penalti que era dado como certo): esse tal de "mundo pós-moderno" está mais confuso que trânsito na Savassi em dia de chuva. A gente corre, corre e, no fim das contas, fica se perguntando: ainda tem lugar para a Filosofia no Brasil do século XXI? Ou a Grécia Antiga virou apenas nome de prato caro em restaurante metido a besta?

Pois eu digo que sim. E digo mais: pensar a vida e o nosso ganha-pão é tarefa de quem tem coragem de subir a ladeira da memória sem olhar para trás.

Tudo começou com um sujeito chamado Sócrates. Não o craque da Seleção de 1982, aquele do calcanhar de ouro, mas o outro, o barbudo de Atenas. Ele inventou uma moda que, se fosse hoje, o povo ia dizer que era doidice: ele dizia que não sabia de nada. Imaginem só! Num mundo onde todo mundo tem certeza de tudo no WhatsApp, o homem chega e solta: "Só sei que nada sei".

Ali, meus amigos, nasceu a dúvida. E a dúvida é a mãe da sabedoria, assim como a paciência é a mãe da boa polenta. Sócrates tirou o tapete das certezas absolutas e nos ensinou que a pergunta vale mais que a resposta. Ele nos avisou: cuidado com a "doxa", que é essa opinião de orelha de livro, esse saber de ouvir dizer que não leva a lugar nenhum, feito bonde descarrilado.

Isso me faz lembrar — e como dói a lembrança! — daquele professor antigo, o "Dono da Verdade". Ele chegava na sala como se carregasse as Tábuas da Lei debaixo do braço. Não tinha conversa, não tinha prosa. Era o monólogo do saber. Coitado... mal sabia ele que o pensamento é como um namoro na beira do Arrudas: precisa de dois para acontecer. É o tal do diálogo, a tal da dialética. Professor e aluno, num balé de constrói-e-desconstrói, como se a gente estivesse sempre reformando o Edifício Levy.

O aprendizado, minha gente, é um trem que não tem estação final. É contínuo.

Nesses últimos meses, andei soltando uns textos e umas imagens por aqui. Confesso: vi gente coçando a cabeça. Teve e-mail chegando, comentário no blog e até sujeito me parando na rua para perguntar: "Ô Ronaldo, o que é que aquela foto antiga de BH tem a ver com esse filme que você indicou?" "E aquela história? Você passou por isso mesmo lá no Instituto?".

Fiquei feliz. A timidez mineira é o primeiro passo para a curiosidade de mestre. Se houve estranhamento, é porque a pulga atrás da orelha começou a pular. Uns viram uma coisa, outros viram outra, e todos estão certos. A verdade, quando é boa, tem mil caras, como uma multidão saindo do Mineirão.

Por isso, faço aqui uma convocação, com a urgência de quem espera o último ônibus: coloquem suas impressões no papel. Mandem textos, mandem imagens, mandem até desaforo, se for o caso. Vamos tirar a Filosofia do mofo e trazê-la para o nosso meio.

Afinal, se a gente não duvidar de vez em quando, como é que vai descobrir que o horizonte, além de Belo, é infinito?

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