Na cidade mineira de Juiz de Fora, nasceu aos 8 de
fevereiro de 1884, um homem chamado Leopoldo Cathoud. Um nome que hoje, talvez,
ressoe apenas nos anais empoeirados das ciências ou nos murmúrios de alguma
memória antiga. Mas, ao descobrirem a sua história, perceberão que Leopoldo foi
um grande mineiro! Um verdadeiro republicano! Um homem de letras e ciências que
sempre acreditou no poder da educação como fator de transformação social.
Ele não um gigante de estatura, mas um colosso de
inteligência, um farol de cultura que irradiava luz por entre as frestas do
cotidiano, sem, contudo, ostentar um brilho ofuscante. Sua simplicidade era a
grama verde que crescia em torno do palácio de sua mente.
Filho de Fritz e Joanna Cathoud, e sobrinho de Armando
Santos Cathoud, Leopoldo começou sua jornada do saber nos bancos do Colégio
Andrés, em sua Juiz de Fora natal, para depois se aprimorar no Lyceu de
Barbacena. Mas a sede de conhecimento era vasta demais para as montanhas
mineiras. Voou para a Europa, para a Suíça, terra de precisão e montanhas
altaneiras, onde, como um aprendiz de alquimista do tempo, diplomou-se na
Escola de Relojoaria e Eletricidade de Fleurier. Imagine o tilintar das
engrenagens, o cheiro de óleo fino, o fascínio pelos mecanismos que medem o
inexorável!
Por muitos anos, foi relojoeiro, mestre do tempo, e
professor, mestre do saber. E não qualquer saber. Leopoldo Cathoud era um
naturalista, um homem que decifrava os segredos da vida em Viçosa, na Escola de
Agronomia, e destilava ciência nas Escolas Normais de Juiz de Fora e Belo
Horizonte. Sua memória, diziam os que o conheceram, como Tabajara Pedroso, era
um prodígio, um vasto arquivo onde se guardavam línguas, fórmulas, e talvez,
quem sabe, o canto dos pássaros e o silêncio das estrelas. Ele era, ao mesmo
tempo, um cientista de laboratório e um poeta do mundo natural.
Em Juiz de Fora, casou-se com Anna Gonçalves Coelho. Não
tiveram filhos. Não deixou descendência de carne e osso, mas um legado de
ideias, de ensinamentos, de uma vida dedicada à luz do conhecimento. Sócio de
inúmeras sociedades e associações científicas, Secretário da Academia de
Ciências de Minas Gerais – era como se a ciência mineira tivesse nele um de
seus pilares mais robustos, ainda que silenciosos.
A morte, traiçoeira e repentina, veio apanhá-lo no posto
de honra. Às 13 horas do dia 26 de outubro de 1942, em plena aula na Escola
Normal de Belo Horizonte (atual Instituto de Educação de Minas Gerais – IEMG),
o coração de Leopoldo Cathoud silenciou. Foi uma partida abrupta, como um
relógio que subitamente para, mas deixando um eco de sua passagem.
Seus funerais, em justa e merecida homenagem, foram
custeados pelo Estado. O corpo, tal qual um precioso instrumento, foi
transportado de volta para Juiz de Fora, para o Cemitério Municipal. À beira da
sepultura, a terra recebia não apenas um corpo, mas a memória de uma
inteligência rara. Professores da Escola Normal de Belo Horizonte e o Dr.
Américo Repetto, diretor da Escola Normal de Juiz de Fora, renderam-lhe as
últimas homenagens, as palavras escorrendo como o tempo, medindo a perda de um
homem que, em sua cultura extraordinária e simplicidade natural, foi um
relojoeiro das estrelas e um mestre da vida.
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