segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Amélia de Castro Monteiro: A Dama da Educação que Importou a Modernidade (texto de Ronaldo Campos)




 

Este texto foi elaborado a partir do livro Histórias Inspiradoras: biografias que moldaram o Instituto de Educação de Minas Gerais (disponível na Amazon.br)


Existe um tipo de figura histórica que não aparece nos grandes épicos de guerra, mas que, à sua maneira discreta e rigorosa, muda o curso das coisas. Amélia Monteiro de Castro era uma dessas. Nascida na velha Ouro Preto e formada na Escola Normal Modelo de Belo Horizonte em 1912, ela era o que se podia chamar de uma oradora nata, tendo a palavra final na cerimônia de formatura, no imponente salão da Câmara dos Deputados. Uma promessa, já ali.

Mas Amélia não era feita apenas de palavras. Ela era feita de convicção.

Nos efervescentes anos 1920, quando o Brasil se debatia entre o passado agrário e o futuro industrial, o governo mineiro teve a rara (e brilhante) ideia de importar a modernidade. Amélia foi selecionada, junto a um punhado de outras professoras notáveis—como a futura diretora Alda Lodi, Inácia Guimarães, Benedita Valladares e Lúcia Casasanta—para a grande missão: um intercâmbio no prestigiado Teacher’s College, da Columbia University, em Nova Iorque (EUA). O objetivo era claro: beber na fonte do ensino mais avançado e voltar para renovar o ensino público em Minas Gerais.

No dia 13 de fevereiro de 1929, Amélia regressou ao Brasil, trazendo na bagagem não apenas o diploma americano, mas a semente de uma revolução. Mal desembarcou, e o trabalho começou: conferências, palestras e os preparativos finais para a inauguração da Escola de Aperfeiçoamento no mês seguinte. A escola, de tão importante, ocupava provisoriamente construções suntuosas, dessas que exigem adaptações específicas, mas que já anunciavam a relevância da missão.

A imagem de Amélia nesse período é a de uma intelectual no olho do furacão pedagógico. Fotografias da época a mostram ao lado de gigantes como Helena Antipoff, Lúcia Casasanta e até mesmo, vejam só, o poeta Carlos Drummond de Andrade — um reconhecimento de que a educação, naquele círculo, era assunto de alta cultura.

Amélia era conhecida por seu rigor, dedicação e competência. Lecionava Metodologia e atuava como assistente no Laboratório de Psicologia. Seus artigos na Revista de Ensino e suas palestras arrebatavam as plateias de todo o país, que viam nela uma nova luz.

Seu comprometimento era tanto que, após um breve período com o diretor provisório Lúcio José dos Santos, ela foi alçada ao cargo de Diretora da Escola de Aperfeiçoamento. A escolha, segundo cronistas da época, recaiu sobre ela por ser uma "católica fervorosa e profundamente rígida no que dissesse respeito a princípios morais". Uma rigidez que, no entanto, abrigava ideias revolucionárias.

Suas convicções eram surpreendentemente modernas para a época. Amélia defendia que a escola não podia ser apenas um depósito de conhecimento acrítico. A sociedade, ela alertava, não queria saber do grau de cultura, mas da eficiência do aluno. Para ela, a educação deveria ser transformadora, abandonando o caráter autocrático e coercitivo que sufocava as "boas virtudes" e despertava a dissimulação e a passividade.

Em suma, Amélia pregava que a liberdade dentro da escola, aliada ao trabalho e à responsabilidade, era capaz de produzir disciplina e autonomia. A ideia era que, gradualmente, os alunos estivessem em "condição de fazerem o que devem e não o que querem". Uma fórmula elegante para harmonizar a moralidade rígida de sua formação com a modernidade que ela tanto advogava.

Amélia de Castro Monteiro permaneceu na direção da Escola de Aperfeiçoamento até sua extinção em 1945, e continuou à frente do Curso de Administração Escolar (que herdou a missão) até 1951. Sua dedicação ao ensino público foi, enfim, reconhecida pela eternidade: em 1962, uma escola estadual em Belo Horizonte recebeu seu nome.

No fundo, Amélia Monteiro de Castro foi a prova viva de que a rigidez de princípios não precisa ser inimiga da inovação. Ela pegou a bagagem moral de Ouro Preto, temperou-a com a vanguarda de Nova Iorque e a usou para refazer o mapa educacional de Minas Gerais, provando que, às vezes, a mais quietinha das professoras pode ser a mais ruidosa das revolucionárias.


Que lições de pedagogia moderna Amélia de Castro Monteiro teria para o professor de hoje, que lida com a teimosia das redes sociais em vez da dos alunos?

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