Apontamentos sobre educação, filosofia e filosofia da educação
Texto de Ronaldo Campos
Nas últimas décadas, tem se tornado muito frequente o discurso acerca da crise da educação. Com certeza, tal crise não se restringe apenas ao universo das escolas e das práticas educativas da nossa sociedade. Essa crise pode ser apreendida num primeiro momento como uma crise na maneira como concebemos a educação. Sabemos que o sentido e o significado da educação tradicional já não é mais adequado para os padrões sócio-ideológico-político-econômico-cultural que vivemos. Em suma, estamos vivenciando uma crise de racionalidade.
Pensar a educação nesse mundo globalizado (que busca ser inclusivo) não é tarefa das mais simples. Hoje em dia, vivemos uma época de profunda diversidade e de multiculturalismos. Tal heterogeneidade das leituras de mundo também é marcada pela impossibilidade das teorias tradicionais de explicar a nova realidade. Vivemos a sensação do caos, da falta de um arcabouço teórico que nos localize e nos dê segurança no mundo.
Na contemporaneidade, somos invadidos por um turbilhão infindável de informações. Podemos conhecer o mundo em instantes. Temos milhares de possibilidades para descobrir as mais diferentes e variadas formas de estudos, projetos e práticas sobre a educação (ou sobre qualquer assunto) das culturas existentes no planeta. Esse acesso ilimitado e diariamente aberto a todos nós acaba por nos impor uma série de responsabilidades. A informação disponível não pode ser utilizada sem critério ou de maneira leviana. A maneira como essa informação deve ser divulgada também tem que passar por um crivo que verifique o impacto dessa no nosso dia a dia. Temos que ter clareza acerca das possibilidades de compreensão do processo educativo. Além disso, não podemos esquecer que a educação não é um trabalho isolado do pedagogo ou do professor. A prática educativa (e o próprio pensar a educação) exige uma visão interdisciplinar.
O fazer e o pensar a educação exige uma intecionalidade. Pois, a educação é um tipo de ação política. É um processo individual e, ao mesmo tempo, coletivo. Não existe individuo sem cultura. O ser humano desde o seu nascimento faz parte de uma sociedade (cultura). Ele aprende as regras, os significados simbólicos e os interditos para viver em sociedade. Ou seja, a educação (= socialização) é uma forma de introdução do Homem no universo cultural. Ele recebe a cultura pronta, mas também tem o poder (ao longo da sua existência) de contribuir para manter ou alterar essa cultura.
Então, se toda prática educativa é intencional (tem motivações e gera conseqüências), a educação sempre busca formar um individuo partindo sempre de um conceito ou idéia já formulado com determinados fins e objetivos previstos (o que não quer dizer que esses fins e objetivos serão alcançados plenamente). Toda abordagem educativa possui uma estrutura com idéias e pressupostos bem definidos, estudados e teorizados, isto é, toda proposta educativa tem que apresentar um certo conjunto conceitual que consiga garantir a coerência interna da proposta educativa e das articulações entre a teoria e a prática. O que permitirá ao condutor do processo educativo uma ação intencionalmente pensada. Ou seja, cabe ao professor distinguir entre aqueles paradigmas (que podem orientar a sua ação) com o objetivo de perceber as várias alternâncias da maneira como foi (e é) pensada a educação ao longo da história; concomitantemente, ele deverá também perceber quais foram (e quais são) as idéias mais pertinentes e as menos relevantes.
Para que essa intencionalidade ocorra, o professor tem que definir quais serão as suas ferramentas teóricas, estabelecendo pontos de contados para conduzir a sua interpretação do mundo e do processo educativo. O educador tem que ler o mundo. Cabe a ele apreender os dados e informações da realidade e interpretá-los com base nas teorias e paradigmas produzidos pela ciência. O que acabará por gerar a fundamentação da sua prática. O seu agir será intencional e conscientemente formulado; a sua ação será geradora de uma prática pedagógica.
A filosofia da educação é sem sobra de dúvidas uma importante ferramenta para o professor construir os seus pontos referenciais que conduzirão a sua prática pedagógica, pois, essa é uma maneira de pensar criticamente e de modo reflexivo a racionalidade que organiza e orienta as ações pedagógicas. Podemos perceber a partir da filosofia tanto o homem como o mundo. Ou seja, o saber filosófica nos permite entender o mundo a partir de determinados conceitos de Homem e de mundo.
Mas, quando tentamos definir filosofia ou filosofia da educação, percebemos que esta não é uma tarefa das mais simples, uma vez que existe uma pluralidade conceitual que varia de acordo com a concepção epistemológica defendida pelos diferentes filósofos. Alguns autores, se preocupam com a essência, outros se voltam para o fenômeno e para a experiëncia.
Segundo Demerval Saviani, a filosofia é uma reflexão radical-rigorosa acerca dos problemas apresentados pela realidade. Então, por analogia, a Filosofia da Educação é também uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre os problemas que a realidade educacional apresenta.
Cabe ao educador pensar sobre a sua prática cotidiana, isto significa que ele não faz uma simples enumeração das teorias da educação de a partir das concepções pedagógicas. Agir, pensar a prática pedagógica do professor exige uma certa habilidade de identificar, analisar e resolver os problemas da educação. Ou seja, a função da Filosofia da Educação se encontra na possibilidade de disponibilizar para os educadores um método de reflexão para analisar os problemas educacionais, abarcando toda a sua complexidade e encaminhando a solução de problemas (conflito entre filosofia de vida e ideologia na atividade do educador, a relação entre meios e fins da educação, a relação entre teoria e prática, os condicionamentos da atividade docente, até onde se pode contá-los ou superá-los)
Os educadores devem compreender toda prática pedagógica está embasada numa teoria, numa filosofia, isto é, em uma concepção de mundo, de educação e de homem que se pretende formar. Esta deveria ser a primeira definição a ser feita, antes mesmo de se definir quais os objetivos da educação.
A educação tradicionalmente tem sido pautada pelos princípios do silêncio, da obediência, do autoritarismo, da hierarquia, da ordem, da passividade, da dissimulação, (fingir o ensinar e o aprender) da omissão, da exclusão, da fraude, da rotulação e da desigualdade. Como resultado dessa prática espera-se que o aluno seja um cidadão crítico, atuante, participativo, honesto, solidário, criativo e humano. O que percebemos é que a Escola muitas vezes tem um discurso pautado de acordo com certas ideologias que na prática não são postos em prática.
Texto de Ronaldo Campos
Nas últimas décadas, tem se tornado muito frequente o discurso acerca da crise da educação. Com certeza, tal crise não se restringe apenas ao universo das escolas e das práticas educativas da nossa sociedade. Essa crise pode ser apreendida num primeiro momento como uma crise na maneira como concebemos a educação. Sabemos que o sentido e o significado da educação tradicional já não é mais adequado para os padrões sócio-ideológico-político-econômico-cultural que vivemos. Em suma, estamos vivenciando uma crise de racionalidade.
Pensar a educação nesse mundo globalizado (que busca ser inclusivo) não é tarefa das mais simples. Hoje em dia, vivemos uma época de profunda diversidade e de multiculturalismos. Tal heterogeneidade das leituras de mundo também é marcada pela impossibilidade das teorias tradicionais de explicar a nova realidade. Vivemos a sensação do caos, da falta de um arcabouço teórico que nos localize e nos dê segurança no mundo.
Na contemporaneidade, somos invadidos por um turbilhão infindável de informações. Podemos conhecer o mundo em instantes. Temos milhares de possibilidades para descobrir as mais diferentes e variadas formas de estudos, projetos e práticas sobre a educação (ou sobre qualquer assunto) das culturas existentes no planeta. Esse acesso ilimitado e diariamente aberto a todos nós acaba por nos impor uma série de responsabilidades. A informação disponível não pode ser utilizada sem critério ou de maneira leviana. A maneira como essa informação deve ser divulgada também tem que passar por um crivo que verifique o impacto dessa no nosso dia a dia. Temos que ter clareza acerca das possibilidades de compreensão do processo educativo. Além disso, não podemos esquecer que a educação não é um trabalho isolado do pedagogo ou do professor. A prática educativa (e o próprio pensar a educação) exige uma visão interdisciplinar.
O fazer e o pensar a educação exige uma intecionalidade. Pois, a educação é um tipo de ação política. É um processo individual e, ao mesmo tempo, coletivo. Não existe individuo sem cultura. O ser humano desde o seu nascimento faz parte de uma sociedade (cultura). Ele aprende as regras, os significados simbólicos e os interditos para viver em sociedade. Ou seja, a educação (= socialização) é uma forma de introdução do Homem no universo cultural. Ele recebe a cultura pronta, mas também tem o poder (ao longo da sua existência) de contribuir para manter ou alterar essa cultura.
Então, se toda prática educativa é intencional (tem motivações e gera conseqüências), a educação sempre busca formar um individuo partindo sempre de um conceito ou idéia já formulado com determinados fins e objetivos previstos (o que não quer dizer que esses fins e objetivos serão alcançados plenamente). Toda abordagem educativa possui uma estrutura com idéias e pressupostos bem definidos, estudados e teorizados, isto é, toda proposta educativa tem que apresentar um certo conjunto conceitual que consiga garantir a coerência interna da proposta educativa e das articulações entre a teoria e a prática. O que permitirá ao condutor do processo educativo uma ação intencionalmente pensada. Ou seja, cabe ao professor distinguir entre aqueles paradigmas (que podem orientar a sua ação) com o objetivo de perceber as várias alternâncias da maneira como foi (e é) pensada a educação ao longo da história; concomitantemente, ele deverá também perceber quais foram (e quais são) as idéias mais pertinentes e as menos relevantes.
Para que essa intencionalidade ocorra, o professor tem que definir quais serão as suas ferramentas teóricas, estabelecendo pontos de contados para conduzir a sua interpretação do mundo e do processo educativo. O educador tem que ler o mundo. Cabe a ele apreender os dados e informações da realidade e interpretá-los com base nas teorias e paradigmas produzidos pela ciência. O que acabará por gerar a fundamentação da sua prática. O seu agir será intencional e conscientemente formulado; a sua ação será geradora de uma prática pedagógica.
A filosofia da educação é sem sobra de dúvidas uma importante ferramenta para o professor construir os seus pontos referenciais que conduzirão a sua prática pedagógica, pois, essa é uma maneira de pensar criticamente e de modo reflexivo a racionalidade que organiza e orienta as ações pedagógicas. Podemos perceber a partir da filosofia tanto o homem como o mundo. Ou seja, o saber filosófica nos permite entender o mundo a partir de determinados conceitos de Homem e de mundo.
Mas, quando tentamos definir filosofia ou filosofia da educação, percebemos que esta não é uma tarefa das mais simples, uma vez que existe uma pluralidade conceitual que varia de acordo com a concepção epistemológica defendida pelos diferentes filósofos. Alguns autores, se preocupam com a essência, outros se voltam para o fenômeno e para a experiëncia.
Segundo Demerval Saviani, a filosofia é uma reflexão radical-rigorosa acerca dos problemas apresentados pela realidade. Então, por analogia, a Filosofia da Educação é também uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre os problemas que a realidade educacional apresenta.
Cabe ao educador pensar sobre a sua prática cotidiana, isto significa que ele não faz uma simples enumeração das teorias da educação de a partir das concepções pedagógicas. Agir, pensar a prática pedagógica do professor exige uma certa habilidade de identificar, analisar e resolver os problemas da educação. Ou seja, a função da Filosofia da Educação se encontra na possibilidade de disponibilizar para os educadores um método de reflexão para analisar os problemas educacionais, abarcando toda a sua complexidade e encaminhando a solução de problemas (conflito entre filosofia de vida e ideologia na atividade do educador, a relação entre meios e fins da educação, a relação entre teoria e prática, os condicionamentos da atividade docente, até onde se pode contá-los ou superá-los)
Os educadores devem compreender toda prática pedagógica está embasada numa teoria, numa filosofia, isto é, em uma concepção de mundo, de educação e de homem que se pretende formar. Esta deveria ser a primeira definição a ser feita, antes mesmo de se definir quais os objetivos da educação.
A educação tradicionalmente tem sido pautada pelos princípios do silêncio, da obediência, do autoritarismo, da hierarquia, da ordem, da passividade, da dissimulação, (fingir o ensinar e o aprender) da omissão, da exclusão, da fraude, da rotulação e da desigualdade. Como resultado dessa prática espera-se que o aluno seja um cidadão crítico, atuante, participativo, honesto, solidário, criativo e humano. O que percebemos é que a Escola muitas vezes tem um discurso pautado de acordo com certas ideologias que na prática não são postos em prática.
.jpg)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirConcordo plenamente com o texto apresentado. Infelizmente é a realidade, professores fingem ensinar e alunos fingem aprender, claro, existem exceções, pois também temos profissionais gabaritados e comprometidos com a educação, porém não é esse o caso.
ResponderExcluirÉ preciso que os profissionais da educação conheçam a necessidade dos alunos, saiam do tradicional e invistam em uma nova educação.
Dando ênfase ao aluno, e ensinar uma nova maneira de aprender a aprender.
Leideane de Azambuja