domingo, 2 de junho de 2013

Kant - Crítica do Juízo


Segundo Kant, “arte se distingue da natureza, como fazer (facere) do agir ou atuar em geral (agere), e o produto, ou a conseqüência da primeira, como obra (opus), da segunda como efeito (effectus).
-De direito, somente a produção por liberdade, isto é, por um arbítrio, que toma como fundamento de suas ações a razão,deveria denominar-se arte. Pois, se bem que gostem de denominar o produto das abelhas (os favos de cera regularmente construídos) uma obra de arte, isso ocorre, no entanto, somente em analogia.
“Vê-se também uma arte em tudo aquilo que é de tal índole, que é uma representação do mesmo em sua causa deve ter precedido sua efetividade (como mesmo nas abelhas), sem que no entanto o efeito possa ser justamente pensado por ela; quando, porém, se denomina algo uma obra de arte, pura e simplesmente para distingui-lo de um efeito natural, entende-se por isso, toda vez, uma obra dos homens”. Em todas as artes livres para Kant, “é requerido algo de coativo ou, se como costuma denominá-lo, um mecanismo, sem o qual o espírito, que na arte tem de ser livre e é o único que vivifica a obra, não teria nenhum corpo e se evaporaria inteiramente”.
Para Kant, em “um produto da bela-arte é preciso tomar consciência de que é arte, e não natureza; mas no entanto a finalidade na forma do mesmo tem de parecer tão livre de toda coação de regras arbitrárias, como se fosse um produto da mera natureza. Sobre esse sentimento da liberdade no jogo de nossas faculdades-de-conhecimento, que contudo ao mesmo tempo tem de ser final, repousa aquele prazer, que é o único universalmente comunicável, sem contudo fundar-se sobre conceitos. A natureza era bela, se ao mesmo tempo aparecia como arte; e a arte só pode ser denominada bela se temos consciência de que ela seja arte e contudo, ela nos aparece como natureza”.
No “tocante à beleza natural ou à beleza da arte: belo é aquilo que apraz no mero julgamento (...). Ora, a arte tem toda vez uma intenção determinada, de produzir algo. Se isso, porém, fosse uma mera sensação (algo meramente subjetivo), que devesse ser acompanhada de prazer, esse produto, no julgamento, aprazeria somente mediante o sentimento-de-sentidos. (...)
Portanto, a finalidade no produto da bela-arte, ainda que seja intencional, não deve no entanto parecer intencional; isto é, bela-arte tem de ser considerada como natureza, ainda que se tenha consciência dela como arte. Como natureza, porém, um produto da arte aparece porque se encontra nele toda pontualidade na concordância com regras, somente segundo as quais o produto pode tornar-se o que ele deve ser; mas sem meticulosidade, sem que a forma acadêmica transpareça, isto é, sem mostrar um vestígio de que a regra esteve diante dos olhos do artista e impôs cadeias aos seus poderes-da-mente.”
Neste sentido, é o Gênio o “talento (dom natural) que dá à arte a regra. Já que o talento, como faculdade produtiva inata do artista, pertence, ele mesmo, à natureza, poderíamos também exprimir-nos assim: gênio é a disposição natural inata (ingenium), pela qual a natureza dá à arte a regra”
Kant divide as belas-artes em: artes elocutivas; artes figurativas; arte do belo jogo das sensações.
No segundo tipo, artes figurativas ou da expressão das idéias na Intuição Sensível são, seja as da verdade sensível (plástica), ou da aparência sensível.(pintura). Ambas fazem de figuras no espaço a expressão para Idéias: aquela dá a conhecer figuras a dois sentidos, à vista e ao tato(embora a este último não em intenção de beleza), esta somente ao primeiro. A Idéia estética (arquétipo, imagem originária) está, para ambas, na imaginação, como fundamento; a figura, porém, que constitui a expressão da mesma (éctipo, cópia) é dada, seja em sua extensão corporal (como o próprio objeto existe) ou segundo o modo como ela se pinta no olho (segundo sua aparência em uma superfície); ou, o que é também o primeiro caso, é feita condição para a reflexão, seja referência a um fim efetivo, ou somente a aparência do mesmo.
A plástica, como a primeira espécie de belas-artes figurativas, pertencem a escultura e a arquitetura. A segunda é a arte de expor conceitos de coisas, que somente por arte são possíveis e cuja forma não tem a natureza como fundamento-de-determinação, mas um fim arbitrário, com esse propósito, mas também, ao mesmo tempo, com finalidade estética. Na primeira é a mera expressão de Idéias que é a principal. Uma mera obra-de-figuração, que é feita exclusivamente para a intuição e deve agradar por si mesma, é, como exposição corporal, bela imitação da natureza, mas em vista de Idéias estéticas; nas quais, pois, a verdade sensível não pode ir tão longe, a ponto de fazê-la deixar de aparecer como arte e produto do arbítrio
A arte pictórica, como a segunda espécie de artes figurativas, que expõe a aparência sensível artisticamente vinculada com Idéias, eu dividiria na da bela descrição da natureza, e na bela composição de seus produtos. A primeira seria a pintura propriamente dita, a segunda a jardinagem ornamental. Pois a primeira dá somente a aparência da extensão corporal; a segunda, decerto, a dá segundo a verdade, mas somente a aparência de utilização e uso para fins outros do que meramente para o jogo da imaginação na contemplação de suas formas.




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